O exercício da docência é um ofício ou uma profissão? Antes de reagir, reflita. Em alguns países da Europa, a docência é considerada uma semiprofissão, os motivos são a limitação da autonomia, a falta de reconhecimento social, o nível de formação docente, entre outros.
Historicamente, o processo de profissionalização docente no Brasil tem um impulso significativo com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/1996, que torna obrigatória a formação superior para o exercício da docência. No entanto, um levantamento divulgado em janeiro deste ano pelo “Todos pela Educação”, apenas 45,9% dos professores do ensino fundamental II possuem formação superior para a disciplina que lecionam e 53,8% no Ensino Médio. Tal situação cria impactos negativos para a aprendizagem de nossos alunos, pois pesquisas indicam que um docente com boa formação obtém melhores resultados com seus alunos.
A carreira docente não tem sido atrativa, segundo o Ministério da Educação (MEC), há um déficit de 170 mil professores do ensino fundamental e médio. As causas são várias, baixos salários, ameaças e agressões físicas, instalações escolares degradadas estão entre os motivos para afastar pretensos futuros professores e expulsar tantos outros das salas de aula.
Em janeiro de 2017, o salário base dos professores para 40 horas de trabalho passou de R$ 2.135,64 para 2.298,80, um aumento de 7,64%. É pouco. Os professores ganham 57,3 % do salário de outros profissionais com o mesmo nível de formação acadêmica, segundo dados do IBGE, de 2013, e os riscos físicos e psicológicos são maiores.
Para um professor ter um padrão de vida digno, precisa acumular diversos cargos em diversas escolas, o que o deixa sobrecarregado de trabalho, com isso, não consegue dedicar o tempo adequado para planejar suas aulas de acordo com as necessidades de seus alunos, resultando na queda do rendimento e da qualidade do ensino. Essas situações têm um impacto negativo, pois a docência não é atrativa para muitos dos alunos universitários.
Outro fator que contribui para a falta de professores é a evasão da carreira. A pesquisa do “Todos pela Educação” estima em três mil professores desistentes da profissão apenas no estado de São Paulo, por ano; no Rio de Janeiro, são 18 por dia, a principal causa é a violência. O Brasil é campeão na violência contra docentes em todos os níveis de ensino, toda semana, 12,5% dos professores são vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos.
Os professores não são os responsáveis pela situação da educação, são antes de tudo, os maiores envolvidos, precisam de apoio. Para elevar a docência ao “status” de profissão e conquistar o reconhecimento social é necessária uma dedicação coletiva da categoria por meio de um processo de profissionalização.
O sistema educacional brasileiro precisa iniciar um processo de mudança com urgência. As iniciativas devem ocorrer coletivamente, com o envolvimento de toda a categoria docente. Por outro lado, outras instituições sociais também precisam dar sua contribuição, os governos precisam investir na infraestrutura, na formação (inicial e continuada) de professores e de gestores (precisamos de administradores competentes). Não podemos nos esquecer da participação social, principalmente familiar, com acompanhamento da vida escolar de seus filhos.
*Artigo escrito por Waldnylson da Mata, professor de Língua Portuguesa do Colégio Marista Glória. O Grupo Marista, colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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