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Semanas atrás o Papa Francisco conclamou a população e os governos a um novo Pacto Educativo Global, retomando o convite que havia feito em setembro de 2019, quando propôs um projeto mundial para repensar a educação de crianças e jovens. Em sua manifestação, ressaltou que “A educação é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração. Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista.”
Nas palavras de Francisco, é necessário renovar o percurso formativo para construir novos paradigmas, capazes de responder aos desafios e emergências do mundo atual, pois a educação “é um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história”.
A mensagem do Papa foi divulgada em um evento virtual, como exige o momento, da Pontifícia Universidade Lateranense, onde o papa ressaltou os efeitos danosos e talvez irreversíveis que a pandemia do coronavírus está causando a milhões de crianças e jovens em todo planeta, privados do acesso à educação. O papa utiliza a expressão “catástrofe educativa” para se referir ao momento e ressalta o agravamento das desigualdades sociais que afetam a educação.
É certo e temos acompanhado a análise de diversos especialistas que revelam o quanto a pandemia deu luz à desigualdade social e piorou a realidade de alunos que não têm acesso a computadores, internet e às diversas tecnologias que podem os conectar ao aprendizado.Mas o problema não é de hoje e precede a Covid-19.
Recentemente, a Unesco divulgou um estudo que revela que 260 milhões de crianças não tiveram acesso à educação em 2018 e que esse quadro se intensifica com a pandemia, que afetou 90% da população estudantil. Segundo a Unesco, em países de renda média e baixa, os alunos das classes 20% mais altas possuem três vezes mais chances de completar a primeira parte do ensino até os 15 anos em relação aos mais pobres.
Na nossa realidade brasileira, sabemos que as diferenças sempre existiram, mas agora a enxergamos com mais clareza. E um dos tristes legados que a pandemia nos deixará é o abandono da sala de aula. A evasão escolar se agigantou e já sabemos que boa parte dos alunos não retornará à sala de aula quando a pandemia passar.
Também caiu vertiginosamente o tempo de estudo entre os estudantes brasileiros. Um levantamento feito com base na Pnad Covid 19 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), pelos pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri e Manuel Camilo Osório, e divulgado pelo jornal Valor Econômico, revela uma redução drástica no tempo de estudo em decorrência da pandemia. Caiu para 2,20 o tempo médio de estudo entre crianças e jovens de seis a 15 anos, sendo que na classe E este índice é de 2,04 horas, enquanto nas classes AB é de 3,19.
Com base nesse cenário temos que refletir sobre as palavras do Papa Francisco. Ouvir o alerta que ele nos traz sobre a “catástrofe educativa” que a pandemia nos impôs e começar a construir com urgência uma política educacional que reduza as desigualdades e que promova a inclusão de milhões de crianças e jovens brasileiros. É somente pela educação de qualidade que vamos tornar esse país gigante. Lembremos então que educação é uma questão de amor e de responsabilidade.
*Texto escrito por Carmem Murara, diretora do Sinepe e diretora de Rel. Institucionais do Grupo Marista. O SINEPE/PR colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.