Todos conhecem a história. Certa vez, na Grécia Antiga, o filósofo Diógenes saiu na rua, com uma lanterna em mãos, proferindo em lugares públicos a frase “procuro o homem!” Essa busca incessante era por alguém que vivesse sua vida superando as efemeridades e superficialidades inerentes às convenções sociais, ou seja, que estivesse apegado somente à verdadeira essência e natureza do ser humano. O filósofo ficou conhecido por ser um cínico – não em nossa acepção da palavra, mas no sentido de viver independente dos luxos e convenções sociais.
O mundo mudou, a sociedade se modernizou e novas necessidades surgiram. Com a sociedade burguesa nascida do iluminismo e mais diretamente, da Revolução Francesa, muitos valores passaram a vigorar no Ocidente, dentre eles o individualismo. Se por um lado, o individualismo proporcionou oportunidade de despertar as capacidades intrínsecas a cada pessoa, por outro, trouxe certa desconexão com a vida em comunidade. Também não é exagero dizer que nessa esteira se alarga a fronteira entre trabalho e emprego. Como sabemos, o primeiro termo denota diversas atividades humanas que demandam nossas mais diversas habilidades. Já o segundo, está ligado a uma atividade remunerada, da qual estamos todos entrelaçados.
Na modernidade líquida, descrita tão sabiamente por Zygmunt Bauman em que o individualismo é um valor intrínseco, podemos nos perguntar: o que faz alguém dispender de seu precioso tempo para executar um trabalho não remunerado? As respostas certamente são múltiplas e complexas, mas também podem convergir em uma estrada comum. Como somos seres gregários, estamos sempre em contato com nossos semelhantes. Nossa capacidade de se colocar no lugar do outro ou, simplesmente, a famosa empatia, nos leva, muitas vezes, a nos enxergarmos no próximo, por meio de suas dores, aflições e fragilidades.
Posso afirmar que foi durante o trabalho de coordenador e professor de um curso pré-vestibular gratuito, para pessoas de baixa renda, que encontrei algo que sequer imaginava estar buscando. Essa ação de se dedicar a uma causa, simplesmente pela vontade de ajudar àqueles que não teriam outra oportunidade, ajudou mais a mim do que a eles. A conexão com relações humanas pautadas exclusivamente pelo interesse em servir ao próximo trouxe um resgate de uma vida em comunidade que não lembrava mais existir. Essa é uma das dimensões mais ricas do voluntariado.
Outra lição aprendida foi o despojamento do ego. Independente de títulos acadêmicos ou posições hierárquicas na instituição, todos fazíamos os mesmos trabalhos, o que incluía desde a limpeza do local até a lavagem da louça. Nesse sentido, o confronto com a própria vaidade e ego pode ser transformador.
A reciprocidade dessa relação e o aprendizado mútuo é algo que traz um sentimento de completude difícil de descrever.
Pensando nisso, gostaria de propor uma breve reflexão:
O que podemos fazer para tornar a vida de alguém melhor? Ao se pensar em trabalho voluntário, o que você poderia fazer, dentro de suas capacidades, para ajudar outras pessoas?
“Procuro o homem!”
Luiz Gabriel da Silva é doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná, trabalha como analista de Educação e Negócio no Sistema FIEP e foi coordenador e professor de curso pré-vestibular entre nos anos de 2019 e 2022. O autor colabora voluntariamente com o blog Educação e Mídia.
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