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Há aproximadamente quatro séculos antes de Cristo, o incrível filósofo grego Aristóteles – aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande – disparou: "desejar o saber é da natureza do ser humano". E foi exatamente esse desejo que levou os homens da sociedade atual, de uma forma muito natural, a organizar as nossas vidas em três fases: a primeira delas que compreende a infância, adolescência e juventude na qual, por um período de 20 anos, nos dedicamos a aprender para uma "vida ativa”. A segunda fase, que dura em torno de 40 anos, devemos ser produtivos e realizar tudo o que planejamos e sonhamos ao longo da primeira fase. E, após esse período de 60 anos chegamos, enfim, na "melhor idade", quando sobram de 10 a 30 anos para aproveitar tudo o que conseguimos conquistar nas duas etapas anteriores. Que algoritmo maravilhoso. Linear, previsível, tudo organizado, parece perfeito. Porém, como dizem por aí: só que não!

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Começarei a desconstrução daquilo que eu mesmo coloquei no parágrafo acima, com um olhar na primeira fase das nossas vidas, e me concentrarei nela nas reflexões que farei a seguir.

Não consigo reconhecer em nosso modelo educacional vigente, e diariamente executado na maior parte das escolas do nosso país, uma configuração com estratégias, elementos e estruturas que permitam efetivamente uma aprendizagem ativa em concordância com o aprender para uma “vida ativa”. De acordo com o meu nobre amigo e mestre Prof. José Moran, “a vida é um processo de aprendizagem ativa, de enfrentamento de desafios cada vez mais complexos. Aprendemos desde que nascemos a partir de situações concretas (processo indutivo) para que aos poucos possamos generalizar e ampliar a nossa visão. E aprendemos, também, a partir de teorias e ideias para testá-las no concreto (processo dedutivo).” Porém, percebe-se nitidamente que as metodologias predominantes no ensino são dedutivas: o professor apresenta a teoria, fornece exemplos e, em seguida, os alunos devem aplicar tais conhecimentos em situações específicas as quais, por muitas vezes, não possuem nenhuma conexão com o mundo real. Esse é o chamado ensino tradicional, onde o grande problema reside na apresentação do conteúdo, por meio de um poderoso discurso do professor – um monólogo - diante da plateia passiva, com excesso de informações em quadros de giz ou slides em power point, com alunos enfileirados, em carteiras separadas, onde conversar sobre o tema ou pedir ajuda é proibido pois, o silêncio em muitas instituições, é sinônimo de turma muito boa. Portanto, em que aspectos esse modelo tem efetivamente preparado as pessoas para a segunda fase da vida? Que precisa ser produtiva e ativa? Repleta de realizações e conquistas?

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Recentemente, em um dos meus workshops com professores, e inspirado no extraordinário Prof. Eric Mazur da Universidade de Harvard, pedi a todos que anotassem num pequeno pedaço de papel uma habilidade ou competência que melhorou nos últimos dez anos. Em seguida, pedi a eles que escrevessem o que os fez melhorar nisso que escreveram. Logo depois, pedi que levantassem a mão todos que escreveram “a escola”, ou “a faculdade” ou “a universidade”, como ingrediente principal para que a melhora ocorresse. Sabem quantos professores, de um grupo de 60 pessoas, levantaram a mão? Nenhum! Todos citaram processos ou situações de colaboração, de pesquisa, de conversas, de experimentação, mediados por tecnologia, com envolvimento e com o aprender fazendo. Sem intervenções de um sistema de ensino convencional. Mas com muita atitude própria e algumas intervenções pontuais de um especialista, um mentor, um mediador do conhecimento para a facilitação do processo de construção desses novos saberes.

Sendo assim, cabe aqui uma provocação: o que e como as escolas devem ensinar? Há um estudo da Associação Nacional de Educação (NEA – USA), que discorre sobre como devemos preparar os alunos do século XXI para uma sociedade global, tecnológica e hiperconectada. Os argumentos desse estudo sugerem que devemos levar em consideração o uso de estratégias que permitam aos alunos e professores explorarem os 4C’s: comunicação, colaboração, criatividade e pensamento crítico. E como fazer isso? Com um mix de ingredientes que cabem perfeitamente no momento em que estamos discutindo a chamada inovação educacional: metodologias ativas de aprendizagem + tecnologia como ferramenta, como meio (e não fim do processo de ensino e aprendizagem) + professor mediador que deixa de estar entre o quadro negro e os alunos para estar entre os alunos + gestão e infraestrutura alinhados aos objetivos de entrega dos seus serviços educacionais e propósitos da própria organização.  Ou seja, 4 pilares muito explícitos: metodologia, ferramenta, pessoas e gestão.

Muitos educadores, pensadores e entusiastas, assim como eu, acreditam que chegamos a um momento em que as instituições de ensino, principalmente as da educação básica, devem transformar os objetivos das aulas, que geralmente visam as habilidades técnicas e grandes doses de hard skills para, aos poucos, incorporarem nas diversas trilhas de aprendizagem as habilidades da vida em geral. Inclusive a BNCC nos apresenta o “projeto de vida” como uma das competências a serem contempladas no planejamento e execução das aulas.

Temos um mundo de incertezas adiante. Sendo assim nós, professores, temos que analisar tendências. E, dessa forma, precisamos considerar em entregar aos nossos alunos aquilo que realmente importará para as duas últimas fases das nossas vidas: a capacidade de lidar com a mudança, de aprender coisas novas, de saber interagir com pessoas e com o mundo e, por fim, saber encontra equilíbrio mental para as situações desconhecidas. Estou certo de que, para acompanhar o mundo daqui a 25 anos, as pessoas precisarão fazer bem mais do que inventar novos produtos ou serviços. Precisarão se reinventar a cada ano. A cada dia. A cada passo.

* Texto escrito pelo Professor José Motta, engenheiro, gestor educacional, especialista em Principles of Technology, Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação e Consultor em Metodologias Ativas de Ensino, Inovação Educacional e Tecnologias Educacionais. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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