A sociedade hoje vive um “paradoxo da informação”: quanto mais acesso temos, menos compreendemos. É uma situação muito parecida quando entramos em uma livraria, e olhamos as prateleiras pela primeira vez: muitos livros, mas ainda pouco conhecimento em nossas mentes. O arquiteto e comunicador norte-americano Richard Wurman chegou a dizer que a sensação de “virtualidade” que tinha quando entrava na Biblioteca do Congresso era a mesma de quando navegava na internet.
Há uma consequente desinformação, confusão generalizada, excesso de significantes e epidemia de notícias falsas. Os tempos atuais tornaram-se uma negação direta da crença de que ter ao alcance das mãos livros, internet e outras mídias seria suficiente para o desenvolvimento de uma sociedade culturalmente e socialmente igualitária.
Durante os anos de 1980 e 1990, muitos projetos governamentais, e também do terceiro setor, apostaram em equipar periferias, áreas pobres ou remotas, com computadores, tablets e acesso à internet - o tempo mostrou que esse foi um passo muito importante, mas longe de ser suficiente para a melhora da educação.
A atual falta generalizada de banda larga nas escolas públicas, por exemplo, intensifica a desigualdade na aprendizagem - assim como a falta de bibliotecas. Entretanto, há questões antigas e novas, pouco tencionadas, que não evoluíram mesmo em países em que o acesso é dado como resolvido, como na Europa: Como estimular a leitura? O que ler? Como se certificar de que a informação é correta? Como trilhar uma trilha de compreensão no meio de tanta informação imprecisa, falsa e excessiva? Como me fazer claro em minha expressão pessoal?
Não há sociedade democrática sem liberdade de expressão individual, artística e de imprensa. Mas também não é possível considerar uma nação realmente livre se não houver uma sociedade que compreende o que lê, e que saiba utilizar de maneira eficiente o direito à comunicação e livre expressão.
Esta coluna dedicou diversos textos durante o ano ao papel que a educação (formal ou não) têm com relação à mídia e, sobretudo, à compreensão do que se lê. Sublinhou a educação midiática como fundamental para o desenvolvimento de habilidades ligadas à leitura, análise, curadoria e produção de comunicação. Em outras palavras, os educadores que se relacionam bem com a mídia (não importa a área em que atuem) são guardiões do pensamento crítico de hoje e atores fundamentais nos processos democráticos.
Um sinal explícito com relação a essa importância se fez ouvir em setembro deste ano do outro lado do Atlântico. Quando o nigeriano Chido Onumah, ativista da educação midiática, voltava para Abuja após uma conferência sobre o tema, recebeu imediatamente voz de prisão no aeroporto da capital. Tornou-se um novo tipo de preso político: um ativista da “compreensão”. A prisão de Onumah tornou-se uma prova cabal da relevância política-estratégica da educação midiática.
Ou seja, na “nova ordem mundial midiática” não somente jornalistas e artistas são considerados ameaças a países pouco simpáticos à pluralidade de opiniões; quem trabalha pelo pensamento crítico pode tornar-se alvo preferencial deles.
*Texto escrito por Alexandre Le Voci Sayad. Jornalista e educador. Atualmente diretor da consultoria ZeitGeist e Co-chair mundial da GAPMIL, de educação para a mídia da UNESCO/ Paris. É membro do Conselho Consultivo do Programa Educamídia (Instituto Palavra Aberta e Google) e do Conselho Científico da Revista Comunicar (Universidade de Huelva, Espanha). É autor de livros, dentre eles "Idade Mídia - A Comunicação Reinventada na Escola" (Editora Aleph). Mais informações: alexandresayad.com
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