A vida da gente é uma constante surpresa. Estou certo de que você, assim como eu, em alguns momentos da vida se surpreende com palavras que, até então, não existiam de forma regular em seu cotidiano e, de repente, começam a aparecer em tudo o que você lê, pesquisa e estuda. Isso está acontecendo comigo nesse exato momento com a palavra Empatia. Isso mesmo, Empatia! Por muito tempo ouvi que precisávamos ser simpáticos com as pessoas, tratá-las bem, cumprimentá-las, sorriso no rosto, cordialidade. E o ser antipático soava como ser mal-educado, não agradável, sisudo, cinzento, poucas palavras.
E agora essa tal empatia aparece, de forma insistente, em vários textos, livros, palestras e outros materiais que me interessam como professor e entusiasta em educação de vanguarda. Ao buscar pelas tão faladas competências socioemocionais lá está ela. No mínimo como uma das dez mais importantes para os profissionais do presente e do futuro. Ao aplicar e desenvolver um workshop de Design Thinking com professores e alunos, a fim de prototipar e testar algo, qual é o primeiro passo desse framework? O exercício da empatia. O colocar-se no lugar do outro. Ao buscar referências sobre os pilares da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para discussão e entendimento do assunto com outros educadores, nos deparamos com a empatia acenando como algo a ser explorado pelas diversas áreas do conhecimento no âmbito da educação básica. E, ao revisar palavras ditas pelo gênio da Física, Albert Einstein – que para mim é inspiração pura – me deparo com essa extraordinária definição: a empatia é pacientemente e sinceramente ver o mundo através dos olhos da outra pessoa. Não é aprendido na escola; é cultivada ao longo da vida. Estaria o incrível Albert dando insights sobre lifelong learning – o aprendizado ao longo da vida?
Agora, preciso fazer uma pergunta bem importante: se os professores do século XXI precisam criar estratégias e atividades que desenvolvam a empatia em seus alunos, será que eles cultivaram isso ao longo das suas vidas até então? Será que efetivamente os professores realizam o exercício de se colocarem no lugar dos seus alunos e imaginarem, apenas imaginarem intensamente, receberem as aulas preparadas por eles mesmos? O impacto disso seria positivo ou negativo? Será que efetivamente os professores preparam as suas aulas pensando em seus alunos? Colocando-se no lugar deles? Será que entregam uma experiência para que os alunos aprendam ou “se livram” de mais uma aula do corrido e cansativo ano letivo?
Nesses meus mais de 25 anos como professor, coordenador e gestor educacional, já vivi muitas situações em sala de aula, nos corredores e pátio da escola, na sala dos professores, nas reuniões pedagógicas, nos momentos de planejamento de aulas e avaliações, nos momentos de ser cobrado e de cobrar resultados diversos e, raramente, a empatia acontecia a olhos vistos. Sejamos francos meus amigos: no dia a dia da escola a empatia é algo raro! E agora precisamos exercitar isso com os nossos alunos. Desenvolver junto a eles algo que para nós mesmos é extremamente dolorido. E preciso confessar algo: muitas vezes eu preparei aula para mim mesmo. Não foi proposital. Isso acontece naturalmente quando professores estão há muito tempo ensinando os mesmos conteúdos. É algo que está em piloto automático. Conheço muitos professores que preparam aulas para eles mesmos. Conheço professores que dão uma aula show, uma aula recheada de pirotecnia e simpatia. São incríveis na arte de causar em seus alunos a chamada sensação de fluência no assunto. Mas essa fluência é falsa. O aluno lembra do que aconteceu por horas ou dias. Mas, no mês seguinte, se realizarem uma avaliação, a fluência escorreu pelo ralo. Ousar ensinar é uma coisa. Os alunos aprenderem é outra.
E ainda, em meio a todo esse emaranhado rabiscado no parágrafo anterior, temos: os alunos interessados, os desinteressados e os indiferentes, a avalanche tecnológica em altíssima velocidade, a cobrança por resultados no ENEM e no ENADE, o “pisar em ovos” diante dos titulados do mundo acadêmico que, geralmente, se acham os donos da verdade, o excesso de feedback e a quase ausência de feedforward (olhar para frente, trabalhar pelos resultados futuros).
É certo que a empatia nos chama a tentar compreender os mais diversos modelos mentais, a resolver problemas e criar soluções a partir de insights do outro, a construir trilhas de aprendizagem que façam sentido e que tenham significado para o outro. Talvez abrir mão das próprias práticas, e arriscar outras com uma nova forma de pensar, seja inicialmente desconfortável. Mas precisamos estar abertos a isso, a todo instante, enquanto profissionais de educação na era da exponencialidade.
Se desejamos realmente ser professores extraordinários, faz-se necessário entender que a empatia nos aproxima daqueles a quem queremos oferecer nossos conhecimentos. E vai além: ela é capaz de fidelizar e inspirar. A Empatia nos distancia de uma postura de ensinar, mas nos deixa próximos das mais variadas formas de aprender dos estudantes. É por meio da empatia que abrimos mão de sermos os “sábios no palco” de uma aula, permitindo aos alunos o protagonismo na construção dos conhecimentos, criando canais para que os alunos tragam a sua parcela de contribuição, fazendo parte ativa da aula. E não falo aqui de aulas tradicionais, puramente expositivas e pasteurizadas. Isso nem cabe mais, o tempo todo, na educação de vanguarda. Mas sim, falo de aulas vivas. Repletas de metodologias ativas de ensino, de aprendizagem por problemas e projetos, de learning by doing, de estruturas de aprendizagem onde sentir, fazer, testar, validar e compartilhar sejam os propulsores de uma nova atitude de todos. Alunos e professores. Dentro e fora de sala de aula.
E, para finalizar, digo o seguinte: é impossível educar de maneira a atender às demandas do século XXI sem empatia. Dentre os incontáveis diplomas entregues nas magníficas solenidades de formatura há um exagero de simpatia, luzes e aplausos. Mas, na semana seguinte, ao ingressar no mercado de trabalho é preciso competência, habilidade atitude e muita empatia!
* Texto escrito por José Motta Filho, engenheiro, gestor educacional, especialista em Principles of Technology, Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação e Consultor em Metodologias Ativas de Ensino, Inovação Educacional e Tecnologias Educacionais. Atualmente é Head of Edtech na Beenoculus e Head of Active Learning na Beetools – Startups que promovem e utilizam Realidade Virtual, Inteligência Artificial, Big Data, Gamification e Adaptative Learning na Educação.”
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