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É compreensível que, no curso de uma pandemia todos fiquem um pouco perdidos, desorientados e assustados. O ser humano não gosta de imprevistos, é natural buscar a zona de conforto, assim como o que é previsível e estável.

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Um vírus se tornou um cisne negro (1) avassalador. Em poucos dias, o que era um surto de gripe na China atingiu todo o mundo. Uma pandemia com consequências inimagináveis em pleno século XXI.

Mas o que mais assusta é a forma que escolas e universidades estão reagindo ao problema. Afinal, não houve tempo para planejar uma solução educacional remota. Nunca se cogitou a possibilidade dos alunos e professores não comparecerem às salas de aulas. Mas chamar isso de educação a distância é um afronto à ciência da educação e às teorias educacionais.

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Não estamos fazendo ensino ou educação a distância. Estamos praticando um Ensino Remoto Emergencial (ERE). Este termo está explicitado no artigo de Charles Holges et al., "The Difference Between Emergency Remote Teaching and Online Learning" (2).

É ensino remoto porque, de fato, professores e alunos estão impedidos por decreto do Ministério da Educação e Secretariais Estaduais de Educação de frequentarem escolas, evitando a disseminação do vírus e seguindo os planos de contingências orientados pelo Ministério da Saúde.

É emergencial porque, do dia para noite, o planejamento pedagógico – pensado, debatido e estudado para o ano letivo de 2020 – teve que ser engavetado e, talvez, acabe jogado no lixo.

Em cenários de incerteza, todos são novatos. O que está acontecendo é um planejamento pedagógico in real time: nunca as escolas tiveram que experimentar tanto, assim como gestores e professores decidirem tudo tão rápido. Nunca o TI foi tão estratégico para o negócio educação como está sendo agora.

Por quê? Pelo simples fato que o currículo da maioria das escolas não foi criado e sequer pensado para aplicação remota. A maioria dos professores e funcionários nunca foram treinados para o ensino online ou por meio de ferramentas virtuais.

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No máximo, algumas escolas e IES ofereciam treinamentos e oficinas de aplicativos e ferramentas digitais numa tentativa de enriquecer as aulas presenciais e, mesmo assim, com muita resistência dos professores. Quem trabalha diretamente com a formação de professores está ciente disso há tempos: há conhecimento de causa.

É muito novo, para boa parte do mundo incluindo o Brasil, alunos e professores não poderem vir À escola.

Então, há de se reconhecer que:

1. Não estávamos preparados para isso. Ninguém estava.

2. Os professores nunca foram treinados para ensinar on-line

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3. O Currículo não estava adaptado para um ensino on-line

4. É uma experiência nova para todos (Gestores, professores, alunos e pais)

5. O planejamento e entrega do ensino está sendo emergencial e em tempo real.

Frente a todos esses desafios, todos fazem o possível para que tudo funcione da melhor maneira possível. Assim, o objetivo é que os professores ensinem e alunos aprendam, demonstrando também o valor do serviço educacional para os pais, mesmo que remoto e emergencial, para justificar as mensalidades. Por fim, buscam atender às normativas e resoluções dos Conselhos Estaduais de Educação e salvar o Ano Letivo de 2020.

De forma emergencial e com pouco tempo de planejamento e discussão (o que levaria meses em situação normal), professores e gestores escolares, público e privado, da educação básica a superior, tiveram que adaptar imediatamente o currículo, atividades, conteúdos e aulas como um todo. Antes projetados para uma experiência pessoal e presencial  (mesmo que semipresencial), tudo foi transformado em Ensino Remoto Emergencial. Que fique claro: totalmente experimental.

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Fazendo um recorte desse processo, é seguro afirmar: nunca a educação foi tão inovadora. Foi a transformação digital mais rápida que se tem notícia num setor inteiro e ao mesmo tempo. Escolas e IES têm aprendido a fazer gestão enxuta (3) e experimentar o estilo Startup de conduzir o negócio. Ou seja, o ciclo construir, testar, aprender, ajustar, construir, testar e aprender a cada aula, a cada dia, a cada semana. E seguirá assim, enquanto esse lockdown durar (4).

Este é um desafio imenso e um trabalho intenso, mas é a única opção.

É a única opção que há para ensinar. A única que os alunos têm para aprender. A única que há para justificar as mensalidades. A única que há para salvar os empregos. A única para não perder o ano letivo. A única, afinal, para salvar o negócio.

Por isso insisto no termo: Ensino Remoto Emergencial (ERE).

Os autores Charles Holges et al. definem Ensino Remoto Emergencial como uma mudança temporária da entrega de instruções para um modo de entrega alternativo devido a circunstâncias de crise. Envolve o uso de soluções de ensino totalmente remotas para instrução ou educação que, de outra forma, seriam ministradas presencialmente ou como cursos combinados ou híbridos e que retornarão a esse formato assim que a crise ou emergência tiver diminuído (2).

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É fundamental que fique muito claro a todos que o objetivo principal nessas circunstâncias não é recriar um ecossistema educacional robusto, mas fornecer acesso temporário a estratégias de ensino-aprendizagem de uma maneira que seja rápida de configurar e entregar de forma simples e confiável durante uma emergência ou crise.

O que gera receio na área é ver o movimento de gestores em busca de soluções robustas, completas e complexas de EaD, e empresas e fornecedores que aproveitam este momento de fraqueza do sistema para penetrar pelos flancos dos muros das escolas com plataformas, serviços, e soluções complexas demais para serem imediatamente e emergencialmente utilizada.

Aos gestores, é recomendado cuidado com Cavalos de Tróia (5). A cartilha para tempos de crise é bem conhecida: faça o mínimo, foque na operação atual e faça o simples que funciona. E invista muito na comunicação com os alunos, pais e colaboradores. No fim do dia, eles são o negócio.

A mudança para o ERE exige que os professores assumam mais controle do processo de criação, desenvolvimento e implementação de cada aula. O professor agora é, de verdade, a cara da escola. Nunca teve um papel tão importante e estratégico.

Esses professores precisarão de apoio e ajuda para desenvolver habilidades para trabalhar e ensinar num ambiente online, enquanto ensinam e trabalham.

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Cada aula será um experimento.

Todos são novatos. A cada dia serão criadas e testadas aulas para os alunos, que podem aprender muito neste processo. Neste período, a aprendizagem do professor será intensa: aprenderá o que funciona e o que não funciona. Ele terá a oportunidade de ajustar o que não funcionou bem e intensificar o que parece ter funcionado. Assim, testará na próxima aula, aprendendo ainda mais em cenário real de aula. Desafiador, mas estimulante.

Gestor não cometa o erro de querer padronizar.

Você, seu time e sua escola ou IES tem a oportunidade única de se tornarem uma instituição antifrágil, uma escola antifrágil, uma universidade antifrágil. E porque não sonhar num sistema educacional antifrágil (6).

Antifrágil é um termo cunhado pelo autor, economista e investidor Nassim Taleb que explica em seu livro de mesmo nome, que algumas coisas podem se beneficiar com caos (7). Nesse sentido, a educação tem uma boa chance de melhorar como um todo, de verdade.

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Mas para isso, devemos permitir aos professores experimentarem coisas novas. Novos métodos, novas tecnologias a cada aula. Levemos em consideração o número de experimentos didáticos e aprendizagem acumulada que a escola realizará nas próximas semanas. Cada aula é uma unidade muito pequena diante de todo o currículo. Se algum experimento durante a aula, ou mesmo que em uma aula inteira não dê certo, não importa. Este pequeno momento não vai comprometer todo o programa de ensino. Por outro lado, o que se pode aprender nesses experimentos didáticos terá um valor inestimável para o professor, para a escola e IES como um todo.

Portanto, como gestor, recomenda-se autonomia aos professores. Confiança no feeling deles, que sabem o que funciona e o que não funciona. A libertação das amarras do sistema de ensino, que os prendem e engessam. Devemos permitir aos professores que criem, inovem, aprendam, mesmo que errem de vez em quando – desde que o erro seja pequeno e rápido – incentivo a compartilhar seus cases de sucesso, e talvez até o insucesso e o que deu errado, para outros evitarem cometer erros já conhecidos.

Fazendo isso, salto de qualidade, de maturidade do time e de inovação da sua escola ou IES será um legado desta crise.

O ensino remoto emergencial ensinará as escolas a serem o que sempre sonhou-se e se pensou ser possível construir. Uma escola que experimenta, que aprende, que inova, que tenta o novo e sempre busca o melhor para o ator mais importante deste processo (e razão da escola ou IES existir): o aluno e seu ganho de aprendizagem.

*Texto escrito por Paulo Tomazinho, doutor em Educação e Ademar Batista Pereira, presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). Os autores escreveram em nome do SINEPE/PR. O SINEPE colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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