“Conquiste o seu espaço no mercado“, “Torne-se um líder“, “O mercado quer você“, “O sucesso mais perto de você“, entre outros blá, blá, blá são comuns em anúncios de instituições de ensino, das escolas às universidades, com direito a modelos bonitos e sorridentes. É a educação sendo tratada apenas como um meio prático e utilitarista do aluno alcançar objetivos econômicos. Duzentos anos depois, infelizmente, parece que pouca coisa mudou no ensino. Desde o século XVII, período da Revolução Industrial a todo vapor, o sistema educacional já se preocupava em formar mão de obra em série e em grande escala para as linhas de produção. Ou seja, passado e presente com escolas que não formam, mas apenas moldam para o mercado. Um problema.
Diariamente, sentimos na pele a esquizofrenia do modo de vida contemporâneo que, de maneira quase doentia, cultua o individualismo, a instantaneidade, a performance e o espetáculo. A noção de coletividade é ignorada e a opção pelo consumo nos é oferecida de maneira onipresente por anúncios publicitários inchados de um estilo de vida insustentável e inalcançável. Nas palavras do filósofo francês Gilles Lipovetsky, “Nos antípodas da transmissão das tradições seculares, vemos desenvolver-se uma cultura de tipo presenteísta que se escora no tempo curto dos ganhos financeiros, na imediatez das redes digitais e dos gozos privados”. Diante deste modelo de sociedade, que parece beirar um colapso a qualquer momento, a escola torna-se estratégica, tanto para deixar as coisas como estão, quanto para tornar-se um agente desestabilizador.
A multiplicação de slogans como os citados no início deste texto são indícios de que tem aumentado as instituições de ensino que tratam educação apenas como um estágio preparatório para o mundo corporativo, como vem acontecendo desde o século XVII. Gosto de comparar a educação como a principal engrenagem de uma grande máquina complexa: ela pode estar ajustada minuciosamente, mantendo a produção a todo vapor; ou pode sair do eixo, paralisar a produção em série e conseguir desconstruir paradigmas, permitindo que as coisas sejam repensadas e tecidas de maneiras diferentes.
Portanto, almejo o ensino capaz de causar a grande pane no maquinário. Quero acreditar em uma escola que seja o espaço de discussão de ideias, sendo possível questionar as coisas como são, ou seja, de contracultura. Afinal, a instituição de ensino que apenas observa de maneira apática o que acontece além de seus muros e tenta adaptar-se à lógica do consumo, torna-se cúmplice da pasteurização do estilo de vida contemporâneo e incoerente com sua prática pedagógica ao dizer que o ensino é transformador.
>> Vinícius Soares Pinto é responsável pela Educação Digital e a Comunicação do Colégio Medianeira, instituição de ensino associada ao Sinepe/PR (Sindicato das Escolas Particulares do Paraná)
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