Há um tempo minha filha, Giulia, ao comer uma coxa de frango de repente soltou um berro de felicidade ao perceber que seu dentinho mole finalmente havia caído. Na mesma hora o segurou nas mãos antes que engolisse e mostrou a todos a sua volta, dizendo: – Meu dente caiu.., meu dente caiu. Naquele exato instante uma virada de página acontecia no auge dos seus 6 aninhos. Seu primeiro dente caia e a primeira infância caminhava para sua reta final. Ela não tinha a exata consciência do que se passava ali, mas mesmo assim manifestou com alegria e espontaneidade aquele momento, sabendo que a novidade era muito mais importante que o apego ao velho dente ou a preocupação com a banguela.
Já reparou que a vida nos da a oportunidade de virar uma página de vez em quando? E muitas das vezes não nos atentamos a esses momentos e não os aproveitamos como deveríamos. Deixamos passar ou nem percebemos. Penso por exemplo que a cada dez anos automaticamente a vida nos das amostras claras de que uma página virou ou que precisa ser virada. Olhe a sua volta e veja o quanto sua vida mudou nos últimos 10 anos. E o que poderia ter mudado e não mudou por uma simples escolha sua, ou a falta dela.
Vamos começar pelo mais trivial. Nossas casas. Depois de dez anos, seu fogão começa a arrear, sua geladeira já não é mais a mesma e seu jogo de panelas está pedindo para se aposentar. Meu sofá então já esta quase caminhando sozinho em busca de um asilo de sofás.
Partindo agora para o lado mais humano, as viradas de página nos acompanham constantemente. A partida de um parente querido, o nascimento de um filho, o fim de um trabalho de longa data, tudo influencia nossas vidas de maneira decisiva e por vezes permanente – para o bem ou para o mal ,tanto faz, pois fazem parte da vida.
Viradas nos movem. Nos tiram do lugar e nos fazem aprender e crescer. Mas há viradas de página que só acontecem se nos esforçarmos ou realmente desejarmos. Sair do comodismo e arriscar um novo trabalho, fazer aquela viagem que pode significar reflexão e mudança de rumos ou construir a tão sonhada casa.
Muitas pessoas gastam uma vida inteira resistindo a mudanças que poderiam transformar suas vidas ou simplesmente mostrar um novo caminho. E quando se dão conta já não tem a mesma energia ou disposição para fazer acontecer.
E nesse mundo que se mostra e se transforma exponencialmente, estar em movimento e atento às mudanças e viradas talvez seja a receita para não dormir no ponto. Infelizmente a velha escola ainda resiste a essa transformação. As poucas instituições de ensino que estão abertas ao novo e aceitam a mudança, já perceberam e estão agindo. Quanto aos pais e educadores esse é apenas um pequeno aviso para os que ainda se sentem muito confortáveis com o mais do mesmo na educação escolar. Aceitar sistemas de ensino idênticos ao que você ou seus pais seguiram pode significar condenar uma geração inteira a se tornar repetidora em um mundo que está em busca de protagonistas e criadores. Colégios e professores que veneram exames, lições de casa, Enem e vestibulares como se fossem os únicos elementos mais importantes da vida escolar de uma criança e jovem, devem repensar sua função como educador. Afinal educar vai muito além de padrões e sistemas. Educar é um ato de coragem para mudar, para entender individualidades, diversidade de pensamentos e o coletivo. Classificar crianças e padroniza-las como esse velho e resistente sistema de ensino ainda prega, é segregar suas habilidades naturais e limitar seus talentos. Educação é muito maior do que a escola, mas a escola pode ser determinante para gerar confiança para essa geração nesse novo mundo. Mundo da colaboração, do talento, da criatividade, e do olhar global. Fica uma reflexão: ou mudamos, ou o mundo muda sem a gente. Ficam os valores e as essências, mas as velhas carcaças, comportamentos e hábitos devem mudar.
Em contrapartida, vejo com muito otimismo uma boa parte da juventude idealista e transformadora, com desejo de virar velhas paginas que insistem em servir de referência para alimentar velhos pensamentos, preconceitos e maus exemplos. Seja na política, nas empresas, na escola, nas famílias e na sociedade em geral. Para que haja mudança e o novo a desconstrução de velhos conceitos faz-se essencial. Sem isso não viramos a página por completo e continuamos a nos enganar dia a dia de que tudo está bem.
A oportunidade de se virar uma página passa a qualquer momento diante de nossos olhos e cabe somente a nós mesmos virá-la ou seguir pelos velhos caminhos.
Gosto de uma frase de Gandhi sobre oportunidade e mudança: Se você deseja que o mundo mude, então primeiro você tem que ser a mudança que quer para o mundo.
Vire suas páginas e comemore com um berro de desabafo e alegria como um dente mole que acaba de cair. Algo novo sempre virá.
*Artigo escrito por Jean Sigel, especialista em Marketing, Comunicação e Inovação, e co-fundador da Escola de Criatividade. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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