Século VIII, Alta Idade Média, escolas monacais. Hugo, professor em São Vitor, mestre exemplar da época, sentado em uma poltrona mais alta que seus alunos, recitando seu manuscrito (De arca Morali. Biblioteca Bodleliana.). Século XIV, universidade medieval, método escolástico. Professor lê e comenta seus textos de um púlpito. Os alunos acompanham suas explicações pelas suas cópias manuscritas, fazendo anotações. Estão enfileirados, com a cabeça ligeiramente inclinada para avistar o professor do alto (manuscrito, século XIV). Século XVIII, Rousseau e o iluminismo, método do ensino mútuo. Salas de grandes dimensões, mínimo de 100 alunos por sala, um professor e seus monitores. Leitura silenciosa. Aprendizagem da escrita. Inovação: sistema de recompensa e punição pela execução de tarefas. Século XX, alunos continuam enfileirados. Continuam em silêncio. Palmatória. Professor leciona do tablado. Século XXI. Fila. Silêncio. Professor leciona. Aluno copia. Notou alguma diferença?
Está na hora de mudar? Já passou da hora de mudar.
O novo século está sendo anunciado como o século das habilidades socioemocionais, da energia renovável e da sustentabilidade, de uma nova língua: a língua da programação. São tantas coisas novas e, ao mesmo tempo, tantas nomenclaturas surgindo no meio educacional: ensino híbrido, flipped classroom, metodologias ativas, pensamento computacional, transumanismo, experience-based learning… ufa. Precisamos de mudança? Sim, urgentemente. As propostas que surgem com o novo século são inspiradoras… e precisam ser! Afinal, o conhecimento muda numa velocidade incrível e o avanço tecnológico não está linear, está exponencial. O que levava anos para evoluir, pode demorar semanas nos dias de hoje.
Está na hora de mudar? Passou da hora de mudar. Já conseguimos algo?
Estamos nos esforçando. Porém, a imagem do século XVIII ainda persiste e a resistência à mudança nos dá sinais de que ainda vai longe. Mudar é difícil e requer embrenhar-se no novo. Na educação, o receio do novo é grande, e ela anda tão burocrática que este “novo”, quando chegar, já ficou velho, ultrapassado. Isto influencia diretamente as famílias, que se assustam ao ver o diferente na escola. No entanto, precisamos de mudança. Sim, urgentemente. Senão, como contribuir para que esta loucura da vida seja mais consciente, mais sustentável, mais solucionadora, mais justa, mais humana? A educação é fundamental nisso. E se não acompanhar este ritmo, a instituição “escola” vai falir.
Está na hora de mudar? Já passou da hora de mudar. De que jeito podemos?
Mudando a forma de aprender. Silêncio já não serve. Carteiras enfileiradas já não cabem. Cópia já não convence. Há muito tempo. Se queremos pessoas mais autônomas, que solucionem problemas, que tenham voz para lutar pelo que acreditam, que tenham pensamento crítico e analítico para considerar variáveis, saírem da ignorância e da manipulação, e tomarem decisões assertivas. Se queremos pessoas que sejam criativas, colaborativas, desenvolvam pensamento lógico e computacional, programação. Se queremos tudo isso, porque precisamos de tudo isso para cuidar da energia, da sustentabilidade, da diversidade, da tolerância, da inovação com consciência, do nosso futuro, chega de esperar sentado e de criticar o que existe. Vamos arregaçar nossas mangas e mudar a forma de fazer educação. Já há belos exemplos de como colocar isso em prática. É estudar, aplicar e, o mais importante de tudo: acreditar e confiar. Confiar que mudar é necessário e fará um bem danado pra esse futuro que será, certamente, desta geração que está neste momento em nossas escolas.
*Artigo escrito por Giovana Chimentão Punhagui, pedagoga e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), certificada pela Universidade de Cambridge para o ensino de língua inglesa e formação de professores. Gerente Executiva de Educação do Sistema Fiep.
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