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A escola, enquanto instituição de ensino, tem sido alvo de críticas por estudiosos e pesquisadores por ser uma instituição que não acompanhou a evolução científico-tecnológica da sociedade e se manteve como uma organização tradicional naquilo que se propõe a fazer: educar.
Ao mesmo tempo em que muitos fazem essa crítica, muitos outros estão em busca de novas possibilidades, criando novas metodologias, novos materiais, tentando fazer da escola um local de aprendizagem significativa e relevante para todos.
Uma dessas pessoas é o pesquisador do MIT Media Lab, Mitchel Resnick, que em seu livro lançado no Brasil em 2020, “Jardim de infância para a vida toda” apresenta sua grande tese: toda a escola (e o resto das nossas vidas) deveria ser mais parecida com o jardim de infância! Mas o que ele quis dizer com isso?
No jardim de infância as crianças aprendem de maneira lúdica, colaborativa e se desenvolvem como pensadores criativos. Tudo isso acontece por meio de brincadeiras e interações em que as crianças aprendem muitas coisas ao mesmo tempo, de maneira mais aberta, livre e autônoma. A essa aprendizagem podemos chamar de processo criativo, pois elas imaginam, criam, brincam, compartilham e refletem sobre o que estão fazendo.
Nesses momentos de interação com diferentes materiais, as crianças do jardim de infância desenvolvem suas habilidades como pensadoras criativas, testam suas ideias, experimentam sem medo de errar.
São muitos os educadores, como Dewey, Piaget e Montessori que nos ensinaram que aprendemos melhor quando interagimos ativamente com os objetos de aprendizagem. A cultura maker, ou “mãos na massa”, ou “faça você mesmo”, nos relembrou esses princípios ampliando a abordagem do “aprender fazendo” para o “aprender criando”. Explico: mais do que interagir com jogos, por exemplo, a criança ou adolescente pode criar seus próprios jogos com linguagem de programação para crianças, de maneira simples e divertida, cheia de significado e interesse para seus criadores. O software gratuito Scratch é uma excelente ferramenta para processos de criação com interesses particulares e coletivos.
Desenvolver pensadores criativos é um compromisso social que todo educador deve assumir. Cada vez mais, as situações cotidianas e do mundo do trabalho nos desafiam a solucionar novos problemas, agir sobre as incertezas, criar um mundo melhor para si e para os outros. Nunca a criatividade foi tão importante quanto nos tempos atuais. São vários os setores da sociedade que estão se voltando para a constituição de uma sociedade criativa. Não podemos deixar as crianças à margem dessa mudança. Daqui há alguns anos, os empregos não serão mais os mesmos e a vida não será a mesma de hoje. Basta olhar para trás, apenas alguns anos, e perceber as grandes mudanças que ocorreram graças à evolução da ciência e da tecnologia que nos trouxeram à vida como ela é hoje. Então, vamos proporcionar vida longa ao que o jardim de infância nos ensina: uma aprendizagem significativa, mão na massa e prazerosa para a vida toda.
Esse artigo foi escrito por Estela Endlich, que é doutoranda em educação pela UFPR e diretora do Departamento de Desenvolvimento Profissional, da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba e escreve voluntariamente para o Blog Educação & Mídia.