As famílias, já naturalmente preocupadas com a segurança dos filhos, agora se deparam com mais um sinal de alerta que põe em risco a vida de crianças e adolescentes. Se trata do jogo da asfixia, também chamado desafio do desmaio, que pode causar graves sequelas à saúde e a irremediável morte de jovens que poderiam ter um futuro brilhante. Uma “brincadeira” que matou o brasileiro Isaque, de apenas 16 anos, encontrado morto por sua mãe – havia se enforcado com um cinto. Ocorrido nos Estados Unidos, é um dos mais recentes casos os quais demonstram que as brincadeiras atuais fogem da recreação e estão além do pular cordas e esconde-esconde.
A verdade é que a vítima, infelizmente, não é apenas o jovem e sim toda a família que seguirá a vida com a marca de um desafio mortal. Com bravura e amor, os entes familiares de Isaque se mobilizam para trazer ao público mais informações sobre o tema, para evitar que outros pais e mães chorem a morte precoce de jovens. E, pior, o mal-uso da internet e das redes sociais servem como catalisador para que a prática se alastre mundo a fora, inclusive no Brasil onde já se registram mortes por conta do choking game.
A palavra desafio tem de ser um sinal de alerta para pais e professores. As brincadeiras perigosas são realizadas na maior parte das vezes por meninos, de 13 a 19 anos de idade. A busca de uma suposta mistura de euforia e prazer é feita pelos jovens como forma de desafio, de ruptura de fronteiras, visto que a maioria deles desconhecem as consequências e as sequelas daqueles que sobrevivem aos jogos mortais.
Além da morte, as brincadeiras perigosas acarretam em sequelas como cegueira – permanente ou temporária, convulsões, epilepsia, parada cardiorrespiratória, paraplegia e, até mesmo, incontinência para urinar e evacuar. Por isso, os pais devem estar atentos aos sinais que poderão indicar que o filho participa destes tipos de jogos mortais como dores de cabeça frequentes, sinais de vermelhidão e marcas no pescoço, irritabilidade diária ou frequente, bem como olhos vermelhos.
A medida preventiva mais imediata é monitorar constantemente o que os filhos fazem na internet, até para conhecer melhor seus pensamentos, expressões, amigos e quais práticas aderem. Monitoramento não é invasão de privacidade; monitoramento é atenção constante não apenas no ambiente virtual, mas nos detalhes do convívio cotidiano. O diálogo e a observação constante trazem importantes dados e informações aos pais que poderão apurar, de forma preventiva, se o filho participa de brincadeiras perigosas, se é agressor/vítima de ataques físicos ou virtuais ou ainda, evitar que os jovens se envolvam com pedófilos, criminosos ou traficantes nos aplicativos de comunicação instantânea ou na Dark Web.
Se o tema em pauta é um jogo, é cabível lançar aos pais um desafio: CHEGA DE MIMIMI! O desafio é tratar o jovem como um ser humano pensante e não como um bibelô de cristal. Precisamos de mais diálogo olho no olho, mais NÃOS, mais vigilância. O adolescente é inteligente o bastante para compreender as sequelas das brincadeiras perigosas e o adulto precisa de inteligência emocional para transmitir as informações de forma correta, precisa e sem rodeios. O medo de traumatizar a criança pode ser a causa de um enterro precoce.
*Artigo escrito por Ana Paula Siqueira Lazzareschi de Mesquita, advogada e sócia do SLM Advogados, membro da Comissão de Direito Digital e Compliance da OAB-SP e idealizadora do Programa Proteja-se dos Prejuízos do Cyberbullying. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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