O neologismo “educomunicação”, junção das palavras comunicação e educação, passou a circular de forma intensa nos últimos anos. Seja em cursos, seja em novas vagas no mercado de trabalho, o conceito costuma despertar dúvidas em quem o escuta pela primeira vez.
Como o nome propõe, a educomunicação articula pesquisas, práticas e ações que envolvem comunicação e educação. Trata-se do reconhecimento de que as duas áreas são parceiras estratégicas: de um lado, profissionais da comunicação passaram a utilizar “práticas educativas” e, por outro lado, educadores passaram a utilizar a “mídia” como recurso pedagógico.
No entanto, o crescimento da área resulta em novas perspectivas de trabalho e questionamentos no âmbito acadêmico, sobretudo em dúvidas sobre como lidar com mídias e tecnologias na educação, leitura crítica dos meios, educação midiática e assuntos correlatos.
Afinal, o que faz um educomunicador?
Há um consenso fundamental entre os profissionais da área: com a presença cada vez maior das tecnologias no cotidiano, adotar os recursos da comunicação na educação se tornou vital. O universo cultural dos estudantes, assim como as linguagens e o cotidiano da educação, é altamente influenciado pelas redes sociais e as informações que circulam na internet. Como consequência, adotar os princípios educomunicativos significa, na prática, tratar as tecnologias como aliadas para promover uma transformação real dos espaços educativos.
Não apenas na escola, mas especialmente no terceiro setor brasileiro nota-se a presença de profissionais alinhados aos princípios da educomunicação, uma vez que as organizações da sociedade civil possuem um compromisso evidente com os direitos humanos e com preservação da dignidade humana, em diferentes áreas.
No que diz respeito especificamente à comunicação e à educação, há uma variedade de ONGs, em todas as regiões brasileiras, que atuam em favor da liberdade de expressão e do direito humano à comunicação, sobretudo de crianças, adolescentes e jovens.
Os profissionais que se dedicam à essa interface nas organizações sociais realizam a gestão e a execução de projetos em que o público-alvo se apropria das mídias em ações de educação cidadã e também na formação escolar, âmbito no qual as ONGs estabelecem parcerias com redes de ensino, públicas e privadas.
Nesse contexto, o profissional alinhado à perspectiva da educomunicação exerce o papel de mediador, apropriando-se das tecnologias da comunicação e da informação com intenção educativa. O objetivo, em última instância, é guiar o trabalho por princípios democráticos, isto é, entendendo a necessidade de fomentar e ampliar espaços de diálogo junto aos educandos e às respectivas comunidades educativas. Assim, o educomunicador entende a educação — e a escola propriamente dita — como um espaço essencialmente comunicativo, do qual o estudante é protagonista e deve exercer sua expressão.
Na prática, este profissional pode educar crianças e adolescentes para utilizar as mídias, não no sentido de “profissionalizá-los”, mas de promover um espaço para o exercício da cidadania. As mídias, nesse caso, se tornam recursos da cultura digital e recursos para viabilizar a expressão criativa e crítica dos educandos.
O educomunicador também atua na mediação de produções midiáticas juvenis, nas quais crianças e adolescentes realizam, por exemplo, coberturas de eventos, de situações do seu cotidiano, em escolas, comunidades e até mesmo em conferências públicas.
O profissional de educomunicação é, portanto, um cuidadoso fomentador do diálogo social, seja com finalidade educativa, em que o diálogo será estratégia de aprofundamento do senso crítico de educandos (utilizando-se as mídias, para atingir esse objetivo), seja com finalidade comunicativa, em que a informação será construída a partir de uma escuta mais atenta às fontes, com a criação de espaços de interação entre elas, o que favorecerá a elaboração de materiais midiáticos mais qualificados.
*Texto escrito por Bruno Ferreira e Douglas Calixto.
Bruno integra a diretoria da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom). É jornalista, especialista em Educomunicação e mestre em Ciências da Comunicação, pela ECA/USP. Atua como docente de Comunicação, no Senac São Paulo, como consultor de comunicação e educação para entidades do terceiro setor e como formador de professores do município de São Paulo. E-mail: brunoferreira.contato@gmail.com.
Douglas Calixto: É jornalista, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. A dissertação “Memes na Internet - entrelaçamentos entre Educomunicação, cibercultura e “zoeira” de estudantes nas redes sociais” rendeu o prêmio de melhor mestrado da ECA-USP em 2017 e o prêmio de melhor mestrado do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom) em 2018. É atualmente pesquisador do MECOM (Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas). E-mail: dcalixto@usp.br
Os profissionais e as entidades colaboram voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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