Diante de um cenário educacional preocupante, no qual o Brasil ocupa a penúltima posição no ranking da educação mantido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 36 países, a sociedade parece se conscientizar cada dia mais de que ela pode ser protagonista da solução de seus problemas. Quando o assunto é a educação para pessoas com deficiência, as APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) desenvolvem um importante trabalho, principalmente em municípios situados no interior dos estados, onde o número de vagas ofertadas por escolas públicas fica abaixo do necessário e as famílias não poderiam pagar a mensalidade de uma escola particular. Já no caso das capitais, além das APAEs contamos com outras escolas no mesmo modelo, que não cobram mensalidade dos alunos e que, citando o exemplo de Curitiba, atendem mais de 70% da demanda. Em nosso país, estima-se a existência de uma fila de espera de 40 mil pessoas para obter uma vaga, de famílias com uma renda média de até dois salários mínimos.
A educação tem que ser solução. Partindo desse pressuposto, vemos cada vez mais pessoas com a percepção de que a ação do Estado é mais lenta do que o necessário para gerar uma mudança em curto prazo. Estas pessoas passam a se dedicar à criação e à prática de metodologias educacionais ou estão voltadas para gerar evolução na qualidade de ensino de instituições educacionais, atendendo a demandas específicas. Trago dois exemplos de iniciativas: uma criada a pouco mais de dois anos e outra criada há quatro anos, da qual sou co-fundador. Ambas foram premiadas recentemente por seu modelo de trabalho e o impacto positivo que estão gerando.
A primeira delas é a Geekie, uma plataforma de educação adaptativa capaz de definir o melhor roteiro de estudo de acordo com o perfil do estudante, que gera um impacto direto na educação de três milhões de jovens. A iniciativa foi fundada por dois amigos, Cláudio Sassaki e Eduardo Bontempo, que perceberam que poderiam ter uma grande utilidade no desenvolvimento do aprendizado de estudantes. Eles largaram seus empregos – um deles era do alto escalão de um banco privado e o outro relacionado ao MIT (em português, Instituto de Tecnologia de Massachusetts) – para se dedicarem à ideia. A grande sacada: sempre que uma escola particular contrata o serviço, uma escola pública recebe a plataforma gratuitamente. No começo de dezembro a iniciativa recebeu o maior prêmio de empreendedorismo social da América Latina.
A segunda iniciativa é a ASID Brasil, fundada em 2010, a partir de um trabalho desenvolvido na Universidade Federal do Paraná, por amigos que tinham o objetivo em comum de trabalhar em prol de uma causa: a da pessoa com deficiência. Após meses de estudo e visitas a instituições de Curitiba, inclusive prestando trabalho voluntário para conhecê-las mais a fundo, percebemos que o problema não estava no encaminhamento da pessoa com deficiência para o mercado de trabalho, mas sim na gestão administrativa da instituição. Ou seja, a execução e promoção de processos para áreas como planejamento estratégico, financeiro, recursos humanos, etc., resultavam em uma baixa qualidade de ensino e na impossibilidade de aumentar o número de vagas.
A ASID promove um projeto de assessoria administrativa, que pode envolver ou não ações de voluntariado corporativo. Desta forma, possibilita uma evolução na organização da instituição e as ações de voluntariado se tornam o principal retorno para as empresas chamadas de “Investidores Sociais” – e ter investidores sociais é muito importante, uma vez que as escolas não pagam pelos projetos. O principal desta metodologia é o acompanhamento feito pela ASID, que retorna anualmente para aplicar um diagnóstico e verificar o que deve ser feito para que a instituição continue evoluindo. A esta altura, com uma gestão qualificada, a própria organização consegue colocar em prática as recomendações – e caso ela apresente muitos problemas retornamos para um novo projeto, o que até hoje, com 27 instituições beneficiadas, não foi necessário. No início do mês, a ASID, representada por seu Diretor de Projetos, recebeu o Prêmio Jovens Inspiradores 2014, entre mais de 5 mil inscritos de todo país.
O que me deixa feliz é ver cada vez mais pessoas conscientes de que seu trabalho, além de ajudar a si mesmos, também pode beneficiar uma causa social e as pessoas nela inseridas, desenvolvendo metodologias inovadoras, atando pontas “perdidas” para criar uma grande rede de transformação.
>> Artigo escrito por Luiz Hamilton Ribas, diretor de Marketing e Voluntariado e um dos fundadores da Ação – ASID, organização social que trabalha para melhorar a gestão das escolas de educação especial gratuitas, resultando na melhoria da qualidade do ensino e na abertura de vagas no sistema. A ASID colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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