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Diante dos acontecimentos que estamos acompanhando nos últimos dias, os diferentes tipos de manifestação social que se espalham por diversas cidades brasileiras parece ter algumas questões em comum. Além da diversidade do conteúdo das reivindicações e dos diferentes perfis dos participantes, a indignação demonstrada, as estratégias utilizadas e a mobilização pelas mídias sociais chamam a nossa atenção para além do momento político e da crise de credibilidade em diversas instituições.

Olhares de estudiosos, analistas políticos, educadores, jornalistas e das pessoas em geral têm destacado a complexidade destes movimentos e a dificuldade de identificar o que de fato está acontecendo, como disse Mario Prata em sua crônica “A passeata”, do dia 19/6/2013: “sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e ignorância”. Diante disso, muitas são as hipóteses sobre as motivações que movem cada um e seus diferentes modos de se posicionar frente aos acontecimentos, desde a indiferença e perplexidade até o desejo de tomar parte.

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Certamente seria interessante ter o olhar de quem está diretamente envolvido, mas são muitas as faces e as máscaras deste movimento.

Como um recorte possível desse não-entendimento, é importante pensar o papel das mídias sociais nessa convocação. Muitos atribuem às redes sociais grande parte da organização desse movimento, pois em vez de identificar “nomes” e “líderes” reivindica-se a organização em “redes”. No entanto, ao mesmo tempo em que isso ocorre, é importante não perder de vista que esse movimento “começou nas ruas” e que sua repercussão nas redes assumiu diferentes formas, desde a organização de novas mobilizações, convites e convocações até o compartilhamento das diferentes experiências com imagens e comentários os mais diversos das mais diferentes “tribos”. Ou seja, parece que a proporção que tal movimento foi alcançando nas redes deve-se à ressonância que o mesmo assumiu em outros espaços.

Nesse quadro é interessante discutir as diversas formas de comunicação e participação que intensificam certas relações e que multiplicam certos espaços de sociabilidade colocando os sujeitos nas redes, seja nas ruas seja nas redes digitais, e como seus dispositivos impactam a vida cotidiana de crianças, jovens e adultos. No caso de tais manifestações sociais, o que pode ser lido como um possível aumento da consciência do outro, vontade de conhecer e possibilidade da participação em processos democráticos, também podem ser problematizados como apenas figuração e número, como oportunismo de certos grupos e muitos outros motivos para além da presença “curiosidade”.

Ao mesmo tempo em que isso ocorre, alguns aspectos críticos também merecem ser discutidos: os níveis de participação considerados de baixa definição em que parece ser insuficiente manifestar a opinião, o contágio da multidão, a participação sem envolvimentos verdadeiros nas situações, os reais interesses diante de tanta diversidade de discursos e práticas, da indefinição de propósitos e certa superficialidade de relações e representações dos movimentos nas redes e nas mídias.

Entre tantas hipóteses e indefinições, percebemos como o atravessamento da mídia e das redes sociais repercute em nosso cotidiano e com isso também possibilita novos modos de participação na sociedade, na cultura e, por que não dizer, na escola? E por falar em escola, como será que esse momento está sendo problematizado nas discussões de sala de aula? Será que “as vozes das mídias” e seu princípio informativo ainda assumem seu caráter de “verdade inquestionável” e de “legitimidade” diante dos fatos mostrados e de “construção de realidades” ou também estão sendo entendidos como possíveis “formas de interpretação”? Que mediações desses movimentos, práticas e discursos estão sendo feitas?

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E aqui, mais uma vez, evidenciamos a necessidade da mídia-educação como condição de cidadania “real e virtual” e a importância do pensamento crítico-reflexivo para tentar interpretar as facetas desses movimentos, tanto na perspectiva de ir além do que nos “é dado a ver” como na possibilidade de construir outras formas de participação.

>> Monica Fantin é Doutora em Educação, Professora do Curso de Pedagogia da UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Educação e Comunicação, PPGE/UFSC. Confira o blog dela aqui.

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