O movimento “maker” se tornou parte das discussões no mundo profissional e também educacional. Um termo “cool” e bonito, em inglês, que significa talvez feitura, ser um fazedor, ou capacidade de fazer por conta própria o que vier a cabeça. Tudo muito bacana e sem dúvida é um movimento que já está revolucionando a maneira como as organizações serão pensadas e geridas. É também o papel dos novos educadores e pais como estimuladores de crianças que nasceram na era digital e agora também serão “makers”. As novas tecnologias substituirão seres humanos em várias áreas e expertises. É inevitável, como sempre aconteceu na história. Mas daqui por diante acontecerá de forma exponencial. É preciso estarmos preparados e nos adaptarmos rapidamente. Mas as impressoras 3D, a nanotecnologia, as tecnologias de ponta, a inteligência artificial e outras tantas máquinas e computadores, são apenas o complemento para algo que o ser humano nasceu para fazer e o que nos torna únicos: a capacidade de criar. Somos exploradores por natureza, nascemos inventores e criativos, mas a medida que crescemos restringimos nossa capacidade de criação, pois somos estrangulados para pensar apenas de maneira linear o que nos impede de olhar ao nosso redor.
A partir daí, perdemos a habilidade de exploração para criar e fazer coisas novas. Partimos para o cômodo e confortável, de repetir o que nos foi imposto, ou simplesmente manter o óbvio. Deixamos de criar para apenas copiar ou repetir. E aí como uma bomba, jovens explodem na vida adulta e no trabalho, onde precisam criar e fazer diferente de maneira cada vez mais rápida e única. A vida, cheia de contradições, diferenças, vitórias e fracassos, os obriga a resgatar suas capacidades de exploração e de fazedores de coisas, para que possam viver e sobreviver.
Por isso, apesar de toda essa tecnologia e ferramentas a nossa disposição, é preciso entender que no final das contas, ainda, dependerá de nós seres humanos a arte da realização. Para os adultos e profissionais maduros, aconselho não apenas ficar de olho nesse movimento, como também se tornar parte dele de alguma maneira. Afinal, todo e qualquer profissional e organização devem ser capazes de se reinventar, mudar rapidamente e acima de tudo de realizar e fazer. Makers. Há meios de se resgatar habilidades e se adaptar, independente da idade e perfil. Porém gostaria de tratar esse assunto hoje com foco apenas nas novíssimas gerações, para sugerir uma nova forma de estimularmos essa capacidade de “criadores e fazedores de coisas” às crianças e jovens.
Quando construímos nossa casa já tínhamos nossas filhas, pequeninas ainda, e imaginamos uma casa que permitisse a exploração e a criação. Com restos de madeira construímos uma casa na árvore ao redor de um pinheiro onde as meninas e amigos brincam e fantasiam. Também fizemos um sótão não apenas como mais um cômodo para receber os amigos forasteiros que nos visitam, mas também um espaço para criar. Sim, criar. Desde que nos mudamos pra casa nova, o sótão se tornou o local onde a Giulia e Giovanna, os amiguinhos e nós criamos possibilidades livremente. Lá pode. Pode pintar, desenhar na parede, recortar, bagunçar (e arrumar minimamente depois, claro), explorar o lixo que não é lixo, colar, rasgar, conectar, construir, testar e experimentar, acima de tudo. Lá, não há TV, computador, Ipad, DVD, ou telefone. No máximo um som velho com CD. Pois há muito o que fazer.
O estímulo acontece como passe de mágica. Muitas possibilidades de criação. Um espaço onde o criar é de graça, o material é de graça e a imaginação é livre. Horas são gastas, quer dizer, investidas ali naquele espaço onde ideias, brinquedos, brincadeiras, teatros e jogos são construídos e representados. Com e a partir do simples. Só o essencial: um espaço livre na casa, muitas caixas de papelão, rolinhos de papel, isopor, elásticos, embalagens, caixas de ovos, plásticos, restos de tudo que sobra no dia a dia, uma caixa pra lixo, e o básico: cola, canetinhas, lápis de cor, giz de cera, arames, fios, fitas adesivas, carvão e que vier. E claro, tempo livre e imaginação. É preciso que tenhamos ambientes de confiança para a criação, para o erro, para a tentativa e para a novidade. Uma simples sala ou um cantinho no quarto, longe de estímulos prontos e onde a criança é desafiada a inventar moda e a experimentar já são suficientes para gerar confiança. Porém é preciso dar tempo a isso tudo. Da mesma forma que damos tempo, as vezes demasiado, para a tecnologia, tempo para a leitura, para o esporte, é preciso dar tempo ao brincar e à criação livre. Porém, também é preciso esforço de pais e educadores para que alimentem esse tempo. Tragam caixas, peçam sucatas para o vovô, recicláveis de casa, e novos desafios.
Crianças são movidas pela curiosidade e desafios. Verão quanta coisa será criada e quanta história contada. Muito movimento maker já saiu daquele nosso sótão de ideias e invenções. Robôs, máquinas do tempo, carros, óculos com raios laser, casinhas de Playmobil, castelo de fadas, tirolezas para miniaturas, camas de gato e até vulcões. Pais, educadores e escolas devem sim se adaptar para proporcionar às crianças e adolescentes ambientes que gerem confiança e estimulem seu poder criativo. Aliás é nosso dever que isso aconteça.
Penso que da mesma forma que a criança tem o direito constitucional a educação formal, deveria ter o direito a exercer seu poder de criação natural. Quando expostos a tanta possibilidade e liberdade ao redor delas, crianças sempre surpreendem. Se serão realizadas profissionalmente no futuro, não sei ao certo e isso dependerá de vários fatores ao longo do caminho e suas experiências. Mas certamente crescerão confiantes para mudar quando for preciso, sem medo do erro, afinal serão fazedores de coisas, e não apenas repetidores do mesmo. E para os adultos, pais e educadores, pequenas dicas que podem ajuda-los nesse novo movimento: invistam algumas horas na semana para estimular e observar os projetos pessoais e que geram propósito e prazer às crianças e jovens. Invistam em um sótão de ideias, ou uma pequena sala de desconstrução criativa na escola. E apostem na inventividade delas pois rapidamente entenderão como serão capazes de se adaptar a esse novo mundo que surge, em casa, na escola e nas organizações. O mundo dos fazedores e criadores – os makers.
*Artigo escrito por Jean Sigel, especialista em Marketing, Comunicação e Inovação, e co-fundador da Escola de Criatividade. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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