Nas mais diversas fases de ensino, o espaço escolar propicia um ambiente rico para que o aluno descubra o mundo em que vive. As áreas de conhecimento, com suas ciências, convidam ao exercício da curiosidade e ao despertar para o novo. Mas, para além dos muros das escolas, a sociedade e o espaço físico são uma verdadeira sala de aula, em que, além de conhecimentos científicos, os alunos aprendem valores, culturas e a compartilhar conhecimento. Assim, a aula de campo transforma o mundo e a sociedade na mais rica sala de aula.
Aristóteles, filósofo grego, defende que o conhecimento nasce do espanto. Sempre que algo chama nossa atenção, aprendemos – é sempre assim, e não tem erro. Desde um novo eletroeletrônico, em que precisamos explorar as ferramentas, até novas habilidades que buscamos desenvolver, o espanto com o novo alimenta nossa curiosidade, e esta salta para o conhecimento.
E o que o espanto tem a ver com a aula de campo? Simplesmente, tudo! A aula de campo é o momento em que o aluno tem a possibilidade de experienciar aquilo que teorizou em sala de aula – logo, é uma atividade de cunho pedagógico, que respeita um criterioso objetivo de ser. Os resultados não são apenas perceptíveis para as disciplinas envolvidas, mas levados para a vida do aluno. Com a utilização de recursos tecnológicos, é possível fazer uma visita guiada a museus do mundo todo, a parques nacionais e aos mais variados espaços. Quando existe a possibilidade, a visita in loco é um verdadeiro espanto para os alunos, pois é nesse momento que aquela velha frase é sempre ouvida: “agora faz sentido”.
Como exemplo, trago uma experiência que tive com meus alunos. Estudamos, em Ciências Humanas, a geografia física e a história do Paraná, além dos elementos da cultura material e imaterial do estado. Em Linguagens, eles aprenderam sobre o fandango, dança típica dos caiçaras. Em Ciências da Natureza, aprofundaram o conhecimento sobre a fauna e a flora da mata de araucária e da mata atlântica. E, por fim, em Matemática, exploraram os mapas por meio do plano cartesiano. Mas como poderíamos celebrar todo esse conhecimento teorizado?
Descemos, então, a lendária Estrada da Graciosa, sentindo na prática os planaltos paranaenses, a mata atlântica e a mata de araucária. Além disso, utilizamos aparelhos de GPS para medir dois pontos e entender, efetivamente, conceitos de geometria analítica. Chegando ao litoral, tivemos a oportunidade de provar o barreado, comida típica da região, além de apreciar uma breve apresentação de fandango. Na sequência, realizamos algumas paradas para reforçar conceitos que poderiam ser tão distantes, mas que, naquele momento, estavam ali – o olhar era de curiosidade. A partir dessa vivência, as relações com os conteúdos de sala de aula vieram à tona e o olhar diante do novo foi de realização.
Essa experiência reforçou a ideia de Aristóteles e permitiu “despertar espantos” entre toda a equipe pedagógica, marcando aquela aula de campo como uma referência para todos. Enquanto educadores, despertar a curiosidade é uma das tarefas mais desafiadoras, uma vez que existem inúmeros aplicativos digitais que fazem muito bem essa tarefa. Mas nenhuma tela é capaz de promover a experiência que os sentidos humanos despertam e “espantam” em nós.
Everton Andreassa é professor de Ciências Humanas do Sistema Fiep, formado em Geografia e Filosofia, e colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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