O novo Ensino Médio
Ainda que num cenário repleto de dúvidas sobre sua implementação, o novo Ensino Médio avança no País. De fato, ainda são muitos os desafios a serem cuidados para que as mudanças possam sair do papel. Mas é alentador perceber que há um esforço de sociedade para que isto aconteça, em consonância com o próprio Artigo 205 da Constituição Federal, ao estabelecer que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
O caráter, afinal, é de urgência, já que os números são alarmantes: do total de estudantes brasileiros que concluem o Ensino Médio, apenas 7% aprenderam o que seria esperado em Matemática (o que inclui o universo de escolas públicas e particulares). A perda estimada com o abandono escolar alcança cifras de R$ 3,3 bilhões. O Brasil tem hoje cerca de 1 milhão de jovens entre 15 a 17 anos fora da escola e sem realizar nenhuma atividade laboral.
Há várias razões que levam a estes resultados: um currículo engessado, que não dialoga com o mundo do jovem; a falta de professores preparados para os conteúdos que estão ensinando (por exemplo, dos que ensinam a disciplina de Física, 61% não foram formados em Física ou em outra área correlata); além de escolas sem a mínima infraestrutura adequada.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio ainda está em construção no Ministério da Educação, ao contrário das etapas que a antecedem (Educação Infantil e Ensino Fundamental I e II), que já estão no Conselho Nacional de Educação (CNE). Afinal, uma das mais importantes e desafiadoras características do novo Ensino Médio é a flexibilização da oferta, caracterizada pelo que está sendo chamado de itinerários formativos. E, para colocá-los em prática, isso exigirá não só um novo modelo de gestão das escolas e das redes de ensino, como também uma modernização na infraestrutura, especialmente nas públicas. A tecnologia poderá ser um grande aliado nesse processo, mas é necessário provê-las de internet e de banda larga – algo absolutamente fundamental para aterrissar no chão de escola trabalhos de pesquisa e de análise de conteúdos, por exemplo.
Em minha visão, o grande fio condutor dessa reforma passa pela oferta da Educação Integral, o que inclui o desenvolvimento de habilidades socioemocionais com intencionalidade no ambiente escolar. Não se trata aqui de uma nova disciplina, mas de colocar em prática no processo ensino-aprendizagem os quatro importantes pilares: aprender a ser, aprender a fazer, a prender a conviver e aprender a conhecer. Isso, por sua vez, passa pela formação do gestor da escola e dos professores. Felizmente, a versão da BNCC, que se encontra no CNE, já aponta nessa direção com dez diretrizes gerais que consagram a importância dessas competências socioemocionais no contexto de uma formação plena para o século 21.
*Mozart Neves Ramos é diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna. Foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco e secretário de Educação de Pernambuco. O professor fará a palestra de abertura do 12o Congresso Educasul, que acontece de 31 de agosto a 01 de setembro, em Florianópolis/SC.
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