Dizem que a forma como nos comunicamos diz muito sobre quem somos. Diante disso, acabamos sendo constantemente julgados pelo modo como falamos com nosso interlocutor, muitas vezes revelando uma total incompatibilidade com a imagem que fazemos de nós mesmos. Com efeito, para além de uma boa oratória, o que facilita o diálogo com o outro é a compreensão de que todos temos necessidades que geram sentimentos. Tanto estes quanto aquelas, quando erroneamente interpretados ou não atendidos, são a causa da discórdia, não é mesmo?
Nesse caso, precisamos de autoconhecimento para compreender que emoções sentimos em diversas situações, como também para entender o que realmente necessitamos e como comunicar isso ao outro de uma forma clara, empática e sem julgamentos. Essas atitudes fazem parte da Comunicação Não Violenta (CNV), conceito desenvolvido pelo psicólogo Marshall Rosenberg, e podemos supor que seja o desejo de quase todos que já ouviram sobre os benefícios dessa prática no dia a dia. Afinal, o que queremos mesmo é criar conexões saudáveis com os outros, sejam nossos pais, filhos, alunos, amigos, professores, colegas de aula ou profissão.
Porém é fundamental entender que uma comunicação que mobiliza a empatia tem muito mais a ver com uma escuta atenta, que procura entender a necessidade daquele com quem conversamos, do que com o gesto de se colocar “no lugar do outro” como salvador dos dissabores alheios. Quando nos colocamos nessa posição, geralmente emitimos conselhos ou julgamentos que na verdade são baseados apenas em nossa perspectiva sobre os fatos e não na experiência da outra pessoa.
Agora que sabemos que existe luz no fim do túnel para os desentendimentos que toda comunicação gera – ainda que haja desafios na prática – imagine as possibilidades da Comunicação Não Violenta dentro do contexto escolar, um espaço permeado por relações. Dentro da sala de aula, por exemplo, essas relações tornam-se nítidas no trabalho em equipe e muitas vezes geram conflitos que poderiam ser minimizados pela abordagem da CNV.
É nesse cenário que quase todo docente, em algum momento, já teve que mediar alguma discussão ou desentendimento entre estudantes, que pode avançar para acusações, julgamentos e até agressões verbais ou físicas. Afinal, discordar faz parte de qualquer relacionamento interpessoal, uma vez que somos sujeitos diferentes, com necessidades distintas. As ferramentas da CNV podem, nesse aspecto, ser aproveitadas pelo professor ao atuar como mediador das relações dentro de sala, assim como pelos estudantes, que precisam aprender a lidar diariamente com emoções, expectativas – próprias e alheias – crenças e opiniões divergentes, desafios que suscitam a capacidade de resolver problemas, de ordem teórica ou prática, além de compromissos, prazos e delegação de tarefas que envolvem a negociação com outros colegas. Ou seja, são muitas questões que ocorrem na escola e que mais tarde emergem nas relações profissionais que esses estudantes vivenciarão no decorrer da vida.
A CNV, nesse sentido, envolve observar a situação, reconhecer que sentimentos estão sendo despertados, identificar quais necessidades nossas e do outro geram o emaranhado das emoções e que precisam ser atendidas para que o conflito seja resolvido. Por fim, consiste na prática de comunicar ao outro aquilo que desejamos de maneira objetiva, honesta e respeitosa (xô, sincericídio!).
Portanto, sejamos mais gentis com outro e com nós mesmos, oferecendo uma escuta generosa, buscando observar os fatos como eles se apresentam, sem acrescentar opinião ou julgamento que os pré-definam. A partir disso, cabe nos questionar por que sentimos o que sentimos para então expressar nossas reais necessidades para o outro, sem perder de vista que este – seja ele quem for – também tem as dele.
Monique Comin Losina é professora de Linguagens do Sistema Fiep, formada em Letras – Língua Portuguesa, com especialização e mestrado na área. A autora colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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