A população do Brasil e especialmente de Brasília levou um susto quando no último final de semana começaram a circular pelas redes sociais e veículos de comunicação online a foto daquilo que já está sendo chamado “Muro do Impeachment”, uma divisória de tapumes metálicos de 2 metros de altura que ficará erguida até o dia 17 de abril – quando termina a votação do impeachment na Câmara -, separando os manifestantes contra e a favor da destituição da presidente Dilma Roussef.
O “Muro do Impeachment” teve ainda a “curiosidade” ou ironia de ter sido erguido por presidiários e se estende do Congresso Nacional à Rodoviária de Brasília, numa extensão média de 1km. À direita do Congresso ficam os manifestantes pró-impeachment e, do lado esquerdo, aqueles contra.
É fácil cair na armadilha de pensar que o muro reflete apenas o que já está acontecendo atualmente na sociedade brasileira com a polarização extrema entre os (aparentemente) dois lados mais óbvios dessa história: “coxinhas” e “petralhas”.
Mas se aprofundarmos um pouquinho nossas reflexões podemos dizer que esse foi apenas um muro que se tornou aparente, que tomou forma e, por ter saído da invisibilidade, chocou. Porém, quantos muros existem ao nosso redor, e que são invisíveis porque assim conseguimos conviver melhor com nossa hipocrisia? Quantos muros e paredes não levantamos nós próprios para evitar o confronto com o “outro – sujeito” diferente de nós? Quantas muralhas de metros e metros de altura cegam algumas pessoas que não enxergam – nem querem enxergar – a realidade de outras tantas sem qualquer tipo de garantia de direitos? Quantos muros não erguemos nós para não sairmos de nossa posição confortável e aprender a respeitar outros pontos de vista, outras classes sociais, outros credos, outras sexualidades?
Os muros, muralhas, paredes que já construímos e estão aí, invisíveis, fazem parte da nossa sociedade desde que o mundo é mundo. Mas enquanto estão invisíveis estamos todos “protegidos” pelo anonimato, afinal, quem é preconceituoso, racista, xenófobo, misógino, intolerante com as minorias? Não, não somos nós. São sempre os outros.
Quando um desses muros sai da invisibilidade e nos esfrega na cara a incapacidade que temos de dialogar, de respeitarmos as diferenças entre nós, de compreendermos o que é uma Democracia e nos revela o quão bárbaro ainda somos, a ponto de precisar de uma parede que nos separe, vale a pena refletir profundamente sobre quem somos e como podemos evoluir. Vale a pena pensar nos outros muros ainda invisíveis que temos ao nosso redor e como quebrá-los de vez.
O muro mais famoso do mundo, Muro de Berlim, caiu em 1989, mas ainda existem pelo menos cinco muros que escancaram para o mundo nossa pouca evolução enquanto espécie humana. São muros que dividem, segregam, incitam à vergonha, ao ódio, ao medo: Muro da Cisjordânia, que teve sua construção iniciada em 2002, e separa Israel do território palestino da Cisjordânia. É conhecido pelos críticos da ocupação israelense como “Muro da Vergonha”; Muro que separa os territórios espanhóis de Celta e Melilla do Marrocos e foi construído quando da entrada da Espanha na União Europeia; Muro que separa os Estados Unidos do México e localiza-se entre as cidades de El Paso e Ciudad Juarez e San Diego e Tijuana, revelando a política anti-imigração norte-americana; Muro de Evros, que separa a Grécia da Turquia e foi construído em 2012 nas margens do rio Evros; Muro que divide a Coréia do Norte da Coréia do Sul, com 250 quilômetros de extensão.
Que muro você ainda tem dentro de você? Não está na hora de começar a quebrar essa parede?
*Cristiane Parente de Sá Barreto é Jornalista, Educomunicadora, Sócia-Fundadora da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), Doutoranda em Comunicação e Pesquisadora do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade – CECS da Universidade do Minho, Bolsista da CAPES, Mestre em Educação pela UnB e em Mídia e Educação pela Universidad Autónoma de Barcelona. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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