| Foto:
CARREGANDO :)

Há pouco mais de um mês tive a oportunidade de passar uma tarde, em meio a uma roda de professores que trabalham como agentes de leitura em escolas da prefeitura municipal de Curitiba. Para falar bem a verdade, acho que ainda estou lá. Tem experiências que não se descolam da gente depois de uma noite de sono, nem ao fim de um dia de domingo.

Pudera. Parece que encontro de professores, via de regra, é feito para lamentar, lavar roupa suja, repetir a ladainha de que esse país isso ou aquilo. Não que não devamos, mas o culto ao fracasso, convenhamos, cansa mais do que a lida. Mas não foi assim dessa vez. Nossa sala de reunião era a biblioteca da Escola Municipal Maria de Lourdes Pegoraro, no Cajuru. Éramos em 12 pessoas, mais ou menos, e não fosse o sol se pôr, ainda estaríamos lá, partilhando experiências de leitura na escola.

Publicidade

Não se disse que nada que não se tenha ouvido. Os livros devem ser valorizados. Biblioteca não é lugar de castigo. Para cativar para a leitura tem de ser criativo. A diferença é que se disse tudo isso com exemplos, e não com conceitos. O famoso “como se faz” reinou no céu da pátria. Contar as estratégias de luta é coisa de gente apaixonada, capaz de fazer das coisas simples da vida um romance. Sabe-se que para fazê-lo é preciso deitar a cabeça no travesseiro e ficar matutando em como conseguir mudar a órbita da terra na manhã seguinte.

Parece ser o método daquelas professoras e professores, engajados no programa, hoje um grupo de nada menos do que 500 Quixotes. A cena da professora Juana Helena Colman, usando da notícia de um tsunami na América Central para convencer o pai mexicano de uma aluna a entrar na biblioteca, e ler, não é apenas hilária, é inspiradora. Quanto ao conceito que veio junto, de contrabando com a história, idem. Não se deve desistir do leitor.

Vejam bem – “não desistir” é uma frase que costumamos dizer quando se trata de um grande amor, de problemas no trabalho, dos parentes mais próximos, das fraquezas da alma que precisam ser vencidas. Mas aqui ela se aplica ao leitor, que para muitos é mais um na massa de brasileiros que, sem pudores, afirmam não gostar de ler. Sabe-se que eles são nada menos do que 55% da população, de acordo com a última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.

É gente pra caramba – e esse é o tamanho do problema. Só com convicção no poder transformador da leitura para encarar esse exército tão numeroso e, não raro, disposto a permanecer onde está. Os convictos, à revelia de ser teimosos, tendem a ser criativos, para fazer valer a verdade que lhe corre nas veias. Foi o que percebi naquele dia. Aqueles professores, conversando sobre leitura como quem brinca de roda, tinham sido fisgados de fato pela leitura. Não falavam de abstração, mas de algo experimentado, e de cujas certezas não arredariam o pé.

Hora de ir embora, fazer o quê? Restou olhar para trás, me despedir de Margareth Caldas Fuchs, a cooordenadora do programa, e ter a certeza de que ainda se vai ouvir falar muito em agentes de leitura. Serão tão famosos como os agentes de saúde. Quiçá mais conhecidos que os agentes da rainha Elizabeth. Exagero? Pois dê um pulinho até junto deles para saber do que estou falando.

Publicidade

>> José Carlos Fernandes é jornalista, doutor em Literatura Brasileira, professor nos cursos de Jornalismo da PUCPR e UFPR.

>> Quer saber mais sobre educação, mídia, cidadania e leitura? Acesse nosso site! Siga o Instituto GRPCOM também no twitter: @institutogrpcom.