Pare agora mesmo o que você está fazendo e dê uma olhadinha para os adolescentes que estão aí ao seu redor. Observe-os por alguns minutos e verá que eles estão diante de um smartphone. É bem provável que eles não estejam falando ao utilizar esse dispositivo, mas tocando em uma tela. Ao mesmo tempo que parecem apressados, estão completamente atentos esperando uma nova mensagem de push, um novo like, ou algo que pisque na tela.
Os adolescentes de hoje podem ser descritos como “screenagers”, um termo usado para descrever o ato de preferir ler, interagir com pessoas e com o mundo, utilizando-se de uma tela. Diariamente esses adolescentes são despertados por um tom musical de um alarme em seus celulares, imediatamente após o toque do dedo na tela para desligar o alarme ou ativar a função soneca, já aproveitam para checar as últimas mensagens e novidades em suas redes sociais, e tudo isso acontecendo antes mesmo de saírem da cama. No trajeto para a escola continuam grudados em seus devices e, alguns deles, ainda interagem com a telinha do Medianav Touch que está ali, disponível no painel do carro. Passam a maior parte do dia hiperconectados com algum tipo de tela e, à noite, ao trocarem ainda mais mensagens com seus amigos por meio de telas de notebooks, tablets e smartphones, podem finalmente sentar para relaxar com os downloads e uploads da internet wifi da sua casa, ao assistirem suas séries preferidas ou ao jogarem online conectadas com pessoas de qualquer lugar do mundo.
Em seu livro Growing Up Digital: The Rise of the Net Generation [Crescimento Digital: A Ascenção da Geração em Rede] o autor, Don Tapscott, afirma que um estudante da atualidade terá sido exposto a 30.000 horas de informação digital quando chegar aos 20 anos. Por outro lado, o consumo de mídia impressa, incluindo livros, está em declínio. Dada a realidade da cultura de tela entre adolescentes, temos que refletir sobre quais são as atitudes, comportamentos e práticas que pais, professores e empregadores, necessariamente precisarão aprender (e incorporar) para se comunicar e se fazer entender diante dessa nova geração de indivíduos digitalmente ativos.
E ainda, diante desse cenário e com um olhar atento para o mundo escolar, é preciso ficar atento ao que nos traz a Educação 4.0. O termo pode parecer estranho, mas o fato é que ele apresenta uma realidade que, a cada dia, será cada vez mais comum em sala de aula. Na Educação 4.0 a tecnologia ganha espaço. A inteligência artificial, a linguagem computacional, a realidade virtual e aumentada, o big data analytics para a criação de ensino personalizado, a criação de makerspaces como laboratórios de experimentação, as soluções de ensino inovadoras que privilegiem as metodologias ativas de ensino e o processo de learning by doing – o aprender fazendo.
Tudo isso é totalmente convergente ao pensamento dos screenagers, o qual é completamente diferente de paradigmas de gerações anteriores: eles são multitarefas, gostam de experiências personalizadas, leituras não lineares e preferem imagens sobre palavras. Memória é coisa para disco rígido de um computador. Se precisam de informações, vão ao Google. Frequentemente usam dispositivos digitais para evitar dissabores ou comprometimentos. Essa geração digital possui grande afinidade com ambientes repletos de sensores, plataformas e aplicativos que permitam respostas rápidas, elogios e recompensas frequentes. Vivem no agora e tudo deve acontecer de maneira instantânea. Seus cérebros estão sempre no modo “sempre alerta” para múltiplos canais de informação, embora a atenção e a compreensão possam ser consideradas superficiais. Eles também querem velocidade e esperam que as coisas aconteçam rapidamente e, como resultado, quase não têm paciência. Falar das características dos screenagers é reforçar as características de pessoas das gerações Z e Alpha, dos nascidos a partir do ano 2.000, que nasceram e estão crescendo em uma cultura de internet, em um ambiente orientado para a multimídia e suas infinitas possibilidades.
A revolução tecnológica, que mudou a forma de comunicação e relação entre os seres humanos, criou um ambiente que é bastante natural e favorável às crianças e adolescentes de hoje. Essa revolução não trouxe apenas novos equipamentos para as salas de aula e ambientes corporativos, ela trouxe também um enorme acesso à abundância de informações que estão disponíveis nas mais variadas mídias e canais, favorecendo a curiosidade, despertando a exploração e a pesquisa, bem como, a autonomia digital dessas gerações. Essa nova sociedade da informação, conectada 24 horas por dia, dá voz e permite a qualquer um com um smartphone na mão, opinar e manifestar suas ideias sobre os mais variados assuntos e conteúdos. E isso, exige de pais, educadores e empresários, uma gama de conhecimentos bastante diferenciados: as competências socioemocionais ou competências para o século XXI.
Sabe-se que essas competências não são novidades. Elas fazem parte de características já valorizadas em muitas décadas anteriores ao terceiro milênio. A grande questão reside no fato de que, atualmente, a habilidade de se pensar antes de agir, de considerar diversas perspectivas ao analisar novos problemas, e até de relacionar-se de maneira adequada e eficaz com os outros, são bem mais que especificidades de pessoas acima da média, são competências necessárias para todos os seres humanos. Disso depende o nosso sucesso, a nossa felicidade e futuro da nossa sociedade.
*Prof. José Motta Filho é Engenheiro, Gestor Educacional e Consultor em Metodologias Ativas de Ensino e Tecnologias Educacionais Emergentes. Atualmente é Head of Edtech na Beenoculus e Head of Active Learning na Zoom Education for Life. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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