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Em junho deste ano, o baixo desempenho do Brasil no Pisa (exame internacional que avalia o desempenho dos estudantes em diversos países) virou manchete nos principais jornais do país. Pela primeira vez, a avaliação mediu a capacidade criativa dos estudantes. O Brasil se destacou negativamente, ficando entre os 15 piores países, com uma média de 23 pontos (10 pontos abaixo da média da OCDE), alcançando a 44ª posição entre as 56 nações participantes.
Nas outras áreas, infelizmente, os resultados também não são motivos de comemoração. Na avaliação realizada em 2022, entre os 81 países participantes, ficamos na 65ª posição em matemática, 62ª em ciências e 52ª em leitura, com pontuações abaixo da média da OCDE em todas as áreas.
Mas, se o Brasil já vem apresentando resultados abaixo do ideal no Pisa durante tantos anos, por que o resultado da avaliação de criatividade chamou tanto a atenção?
É possível que nossa autoestima elevada em relação à criatividade tenha contribuído para a surpresa com o resultado. Nós nos consideramos um povo de ideias simples e inovadoras, especialistas em "gambiarras," e, portanto, criativos. Mas, para explicar um desempenho tão baixo no exame, vale a pergunta: o que o Pisa considera como criatividade?
Segundo o programa, a criatividade é “a competência para se envolver produtivamente na geração, avaliação e melhoria de ideias que possam resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes da imaginação.” Nas questões, são avaliadas habilidades de expressão escrita, expressão visual e resolução de problemas sociais e científicos.
Um dos aspectos que pode nos ajudar a entender o baixo desempenho do Brasil nesse quesito é a relação entre o desempenho em criatividade e nas outras áreas. A grande maioria dos países que se destacaram, com pontuações acima da média da OCDE em criatividade, também obtiveram desempenho superior à média em leitura, matemática e ciências.
Como teríamos um alto desempenho em questões que dependem de expressão se não temos resultados satisfatórios na área de linguagens? Ou, de que forma conseguiríamos demonstrar nossa habilidade em resolver problemas se o pensamento matemático e os conhecimentos científicos básicos estão tão abaixo do esperado?
Isso só comprova que avançar no domínio das aprendizagens essenciais no Brasil é uma urgência! Para isso, é fundamental valorizar os aspectos técnicos e curriculares das disciplinas na formação inicial e continuada de professores, adotar metodologias de ensino com comprovação científica de efetividade e reconhecer socialmente a importância do professor. Esses são desafios que precisam ser superados o quanto antes, pois estão na raiz de todo o problema.
Ao mesmo tempo, avaliar para planejar ações de melhoria é fundamental. Por isso, avaliações nacionais e regionais são tão importantes, pois revelam os pontos de atenção e onde investir esforços. No Brasil, temos o IDEB, um índice que avalia o desenvolvimento da educação básica, levando em consideração, além do desempenho acadêmico, vários outros fatores, como evasão e reprovação escolar.
O resultado de 2023 foi lançado esta semana e representa uma excelente oportunidade, pois apresenta aos gestores e professores informações importantes para guiar a tomada de decisões em relação às próximas ações. No entanto, é crucial conectar esses indicadores aos resultados do Pisa para entender melhor como o baixo desempenho em áreas fundamentais, como leitura e matemática, pode estar diretamente relacionado à nossa capacidade criativa. Essa análise integrada pode guiar ações mais estratégicas e eficazes na melhoria do sistema educacional como um todo.
Olhar para índices como esses comprova aquilo que intuitivamente já sabemos: a educação é um pilar fundamental para o desenvolvimento de qualquer nação. Avançar no IDEB e melhorar o desempenho do Brasil em avaliações internacionais não é apenas uma questão de competir por rankings, mas sim de garantir que nossas futuras gerações sejam capazes de inovar e resolver os complexos problemas do século XXI. Com um investimento robusto em formação docente, metodologias eficazes e uma valorização genuína da educação, poderemos transformar esses desafios em oportunidades de crescimento, elevando não só nossos índices, mas também a capacidade criativa e crítica dos nossos estudantes.