Por dentro de uma escola Waldorf

A primeira vez que pisei numa escola Waldorf parecia ter encontrado uma brecha no espaço-tempo aonde ninguém está trabalhando para acelerar um período da existência humana. A harmonia era parte da atmosfera, podia ser inalada pelos pulmões. Fiquei contemplando a vida em sua essência, admirada por ter encontrado esse refúgio secreto.

O mundo é bom – até os 7 anos

No Maternal e Jardim de Infância, as crianças vivem a extensão de suas casas. Obedecem a uma rotina diária de brincadeiras livres, descobertas, contação de histórias, preparação do lanche, brincadeiras de roda, desenhos livres, aquarela. Todos podem ajudar nas tarefas diárias como lavar a louça do lanche, organizar o espaço, dobrar os panos, varrer a sala, etc. E os pequenos realizam estas tarefas com muito orgulho, gostam do sentimento de pertencimento e utilidade de seus gestos! Neste período, nenhuma atividade puramente intelectual é exigida dos alunos. A sala não é decorada com letras, a professora conta as histórias de memória, tudo é permeado de muita música. As atividades não são dirigidas, assim as crianças passam para o papel aquilo que carregam na alma. Nunca serão orientados a se inspirarem num quadro de Van Gogh ou Monet, por exemplo, a inspiração deve ser buscada dentro de cada um. Nesta primeira infância, a escola Waldorf dá todo o espaço possível para que a criança mostre o que ela traz de único e original para o mundo.

Os brinquedos são feitos de material natural: madeira, lã, algodão, pedras, barro, areia. E recebem o mínimo de acabamento necessário, deste modo, a criança completa o brinquedo com sua imaginação, e não fica “refém” de um brinquedo que tolhe suas possibilidades.

A bondade de alma deve estar presente no exemplo dos adultos, já que nesta época a criança vive um período basicamente imitativo. A preferência é que quanto mais nova for a criança, mais velha seja sua professora/ professor, pois dessa maneira, os extremos da vida se reconhecem, se reverenciam e se reconectam. E, como estamos aqui preparando o solo para uma vida inteira emergir, a responsabilidade e consciência dos mestres sobre a importância do seu trabalho com estes seres, é o mais precioso de todo este ciclo.

O mundo é belo – dos 7 aos 14 anos

As crianças em escola Waldorf entram no ensino fundamental no ano em que irão completar 7 anos. Nesta fase, geralmente estão mais conscientes de sua individualidade, seus corpos já experimentaram muita brincadeira e já estão dispostos a dedicarem um período de seus dias para escutarem um professor/professora, que lhes traga um conteúdo um pouco mais abstrato. Geralmente as crianças nesta idade estão ávidas por mergulhar no mundo das letras e dos números. Deliciam-se com cada novidade trazida pelos mestres e trazem as descobertas para casa com olhos brilhantes!

Durante o Ensino Fundamental os alunos terão uma professora/professor regente que irá acompanhar a turma do 1º ao 8º ano. Esse mestre(a) entra em intensa conexão com sua turma. Conhece cada aluno com a profundidade suficiente para poder guia-lo nesta travessia e, desta maneira, consegue avaliar seus alunos sem a necessidade de aplicar provas. Este professor tem plena capacidade de avaliar seus alunos pelo íntimo convívio diário e pela relação construída com cada um durante este período.

Todo o aprendizado aqui passa pelas vivências e pelo significado do conteúdo trazido. O alfabeto chega com uma história que a professora regente cria para apresentar letra a letra, os números chegam pelo corpo, pulando corda e jogando. Todo o conteúdo faz um caminho do lúdico para o concreto, e as crianças não sentem que estão aprendendo e chegam mesmo a afirmar que estão apenas brincando na escola. Assim, quando menos esperam, estão lendo, escrevendo e fazendo contas.

Música, artes e brincadeiras corporais permeiam todo o período vivido na escola. Tem muita atividade fora de sala de aula, e muita atividade dentro da sala de aula que não exige que ao alunos fiquem sentados ou quietos. Os movimentos são, muitas vezes, provocados pelo professor, para despertar a turma para um momento de introspecção e exposição oral.

Um ponto muito importante é preservar a saúde das crianças. O professor regente recebe cada um de seus alunos pela manhã com um aperto de mãos e uma breve conversa. Neste momento o professor consegue perceber se o aluno dormiu bem, se está com olheiras, se suas mãos estão frias ou quentes, muitos alunos dividem um sonho, uma preocupação ou um desejo neste breve instante. Ao final da manhã, o ritual do aperto de mãos se repete. Agora o professor avalia seu próprio desempenho diário, pois seu objetivo é que cada um de seus alunos saia com um aspecto melhor do que chegou. Quem entrou pálido deve sair corado, quem chegou corado e alegre deve estar saindo ainda mais corado e alegre, quem chegou com olheiras deve sair vitalizado, que chegou de mãos frias deve sair de mãos quentes, quem chegou preocupado deve sair leve, quem chegou amedrontado deve sair cheio de coragem, etc.

O mundo é verdadeiro – dos 14 aos 21 anos

Os jovens na Escola Waldorf estão caminhando para a autonomia. Dos 14 aos 21 anos eles aproximam-se do pleno desenvolvimento das capacidades mentais e morais. O educador, neste período, tem a tarefa principal de trazer à tona a síntese harmoniosa de todas as qualidades do seu aluno. Em Curitiba hoje, não temos escolas que ofereçam o Ensino Médio Waldorf. As escolas da cidade, em 2018 atendem da Educação Infantil ao Ensino Fundamental 2 (9º ano).

Em Curitiba e região Metropolitana, existem inúmeras escolas de Educação Infantil Waldorf e três Escolas de Ensino Fundamental (Turmalina, Grão Saber e Leonore Bertalot).

*Texto escrito por Paula Bertoli – Jornalista, trabalha há 18 anos com Comunicação Empresarial e recentemente adentrou ao universo Audiovisual, com produção de conteúdo. Mãe Waldorf, trabalha voluntariamente para manter a saúde das iniciativas desta pedagogia. Paula é integrante da CURTE – Curitiba em Rede para Transformação da Educação.

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