Celebrar datas que relembram fatos ou situações vividas coletivamente une as pessoas em torno de conceitos e valores que são considerados como pilares para uma vida em sociedade. Desta forma, o questionamento “por que e como comemoramos o dia das mães” apresenta-se pertinente, pois a resposta indica como estamos educando nossas crianças para a vivência da função materna.
Encontramos diferentes representações de ser mulher e de ser mãe de acordo com os fatores ideológicos, culturais e econômicos de um determinado período histórico. Conhecer estas representações nos ajuda a compreender a maternidade hoje e os sentimentos decorrentes de vivê-la na contemporaneidade.
Em várias lendas e mitos nos deparamos com o conceito de que existe um grande organismo feminino regendo a vida na Terra. Representando esse conceito que regula todos os processos vitais do planeta podemos citar Gaia ou Mãe Terra, que, na mitologia grega, representa uma potencialidade geradora da vida de todos os seres. Reia, sua filha, mãe de todos deuses do Olimpo, é uma deusa relacionada à fertilidade. Na mitologia romana Reia era conhecida como Cibele, uma das manifestações da Deusa mãe. Porém quando o cristianismo passou a ser a religião oficial do império romano, o dia de Cibele passou a ser o dia de Maria, que até hoje é amada pelos católicos por ter sido escolhida por Deus para ser a Mãe de seu Filho, Jesus. Maria passa representar o modelo ideal de mãe e de mulher.
Sentimentos e representações históricas sobre maternidade se unem ao ideal veiculado pela mídia na contemporaneidade que, em filmes e reportagens idealizam uma supermãe, supermulher.
A mulher não nasce pronta para ser mãe. A passagem da mulher-filha para a mulher-mãe, exige uma redefinição de sua identidade pessoal. O amor entre mãe e filho é construído na relação entre eles não dependendo de laços de sangue, mas principalmente de fatores psíquicos despertados neste encontro. Jacques Lacan, psicanalista francês, define a função materna como a exercida por um adulto que seja capaz de promover os cuidados físicos e afetivos que o bebê necessita. É o olhar deste cuidador que vai fazê-lo perceber-se como um ser que existe.
Desta forma, respostas dadas às perguntas lançadas nas revistas semanais tais como “É possível ser mãe e trabalhar ao mesmo tempo” ou listas com “Dicas para organizar a rotina de mães que trabalham”, ou ainda, “ Jornada tripla sem stress” podem até dar pistas às mulheres contemporâneas, porém esvaziam-se à medida em que dissociam a demanda de afeto destinado a cada uma das atribuições vividas no dia a dia, gerando frustração com a pressão de ser boa esposa, boa mãe e boa profissional.
Em meio a tantas reflexões e dúvidas, a escola tem um papel fundamental de celebrar o dia das mães como uma oportunidade de discutir os conceitos construídos socialmente sobre o que é ser mãe, os sentimentos despertados pela maternidade e os aspectos que elegemos como sociedade para celebrar este dia. As mulheres precisam encontrar espaços para discussão destas e tantas outras questões para que se sintam valorizadas no exercício da função materna, função que representa a primeira e mais importante relação do bebê, pois é a partir desta que sua vida psíquica será constituída.
*Artigo escrito por Antoniella Polinari Cavassin, psicopedagógica do Ensino Fundamental I do Colégio Marista Santa Maria, da Rede de Colégios do Grupo Marista, colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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