As competências socioemocionais na educação do século XXI
Muitos pensadores da educação defendem que características tais como curiosidade e determinação são tão importantes quanto a inteligência para determinar o sucesso de um aluno. Aliás, esta linha de pensamento, compartilhada por educadores, psicólogos e neurocientistas, ganhou grande relevância nos países desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos, na última década. Os estudos realizados neste sentido têm demonstrado que uma das coisas mais importantes no desenvolvimento de uma criança é a aquisição de um conjunto de competências socioemocionais, a exemplo: curiosidade, determinação, persistência, autoestima, autoconfiança e autocontrole. Estas competências são uma base para que o aluno amplie sua capacidade de aprendizado.
Para Paul Tought, autor do livro “Uma Questão de Caráter”, educar crianças não é, nem nunca será, uma questão de sorte. O jornalista e pensador da educação dedicou anos de sua carreira à reunião de estudos que valorizassem estes aspectos não cognitivos do processo de ensino. Sua conclusão é de que o sucesso acadêmico de um aluno é fortemente determinado por traços de seu caráter e que estes devem ser aprendidos na infância e juventude. Esta ideia de que o caráter importa para o sucesso de uma pessoa não é nenhuma novidade. Mas, quando levantada por Tought em 2012, rapidamente se espalhou nos Estados Unidos uma noção de que professores deveriam ensinar curiosidade e autoconfiança juntamente com história e matemática.
No entanto, logo ficou claro que características como determinação, persistência ou autocontrole não podem ser ensinadas com a mesma metodologia com que se ensina português ou ciências. As pesquisas mais recentes apontam no sentido de que habilidades como determinação e resiliência não são formadas pelos mecanismos tradicionais de ensino, ou seja, não são “ensináveis”. Um número cada vez maior de pesquisadores acredita que estas habilidades são moldadas por um conjunto de fatores relacionados ao ambiente em que a criança ou adolescente vivencia, seja este escolar ou familiar.
Portanto, para melhorar a qualidade da educação das crianças seriam necessárias mudanças de abordagem nestes dois ambientes. Se queremos que nossos estudantes atuem de maneira a maximizar as suas oportunidades futuras – demonstrando perseverança diante dos desafios, sendo capazes de postergar as gratificações e controlando seus impulsos – devemos nos atentar para o que pode os incentivar a seguir esse caminho difícil. Os psicólogos Edward Deci e Richard Ryan realizaram um estudo que sugere que os estudantes estarão mais dispostos a apresentar hábitos estudantis positivos quando o ambiente escolar lhes proporcione uma sensação de pertencimento, independência e crescimento.
Porém, nem tudo está fora do alcance dos docentes. A pesquisadora Camille A. Farrington, da Universidade de Chicago, buscou compreender quais mensagens eram mais eficientes em incentivar os jovens a serem persistentes e também como os professores podem transmitir tais mensagens. De uma profunda e extensa pesquisa sobre a mentalidade dos estudantes, Farrington extraiu quatro crenças chaves que parecem contribuir mais significativamente para que os alunos apresentem uma maior tendência de resiliência diante dos desafios escolares:
- Eu pertenço à esta comunidade escolar/ acadêmica
- Minhas habilidades e competências crescem com o meu esforço
- Eu posso ter sucesso nisto
- Este trabalho é valioso para mim
Segundo Farrington, os alunos que possuírem estas quatro crenças sempre estarão mais preparados para encarar os desafios da vida acadêmica. É interessante observar como estas crenças são compatíveis com o ambiente defendido por Deci e Ryan, assim como ambas as pesquisas são compatíveis com as ideias de Paul Tought. Em verdade, o que os estudos científicos mais recentes sugerem é que o desenvolvimento das competências cognitivas dos alunos depende de uma abordagem holística da educação, que considere tanto os fatores internos e externos do ambiente escolar quanto os detalhes relativos à mentalidade de cada um dos alunos. Sem, é claro, abandonar as preocupações já tradicionais da docência. O desafio é hercúleo, sim. Mas a recompensa é a formação de seres humanos mais capazes, independentemente de seu background social e cultural, ou seja, o valor de uma educação que considere as competências socioemocionais e a formação do caráter dos alunos é inestimável.
*Texto escrito por Renato Casagrande, Professor, Presidente da Instituto Casagrande. Doutorando em Educação, Mestre e bacharel em Administração, Licenciado em Matemática e Especialista em Liderança Educacional. Conferencista, Pesquisador e Consultor em Educação e Gestão. Referência nacional na formação de professores, gestores e na geração de resultados para instituições educacionais. Autor de livros e artigos publicados tanto no Brasil, quanto no exterior. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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