Na segunda terça-feira do mês de fevereiro mais de 100 países celebram o Dia da Internet Segura, quando diferentes instituições públicas, privadas e do terceiro setor realizam ações de mobilização para a conscientização do uso seguro, responsável e ético da internet, a partir de um tema escolhido para ser trabalhado naquele ano.
O Dia da Internet começou a ser celebrado em 2008 e, no Brasil, suas ações são coordenadas pela Safernet Brasil e pelo Ministério Público Federal. Este ano as atividades locais começaram ainda em janeiro e acontecem até o final deste mês, com o tema “Faça sua parte para uma Internet mais positiva”. A ideia é estimular que cada usuário reflita sobre suas ações cotidianas na rede e deixe sua contribuição para uma internet mais positiva, sem violência, preconceito e discriminação. Segundo Rodrigo Nejm, da Safernet Brasil, o tema deste ano tenta mostrar a importância da soma de esforços de diferentes setores da sociedade para tornar a internet um espaço cada vez melhor, com mais direitos, qualidade e com relações sociais mais justas e equilibradas.
Para Nejm, é preciso também estimular que crianças e adolescentes reflitam sobre como elas querem essa internet e o que estão fazendo para ela melhorar; estimulá-las a pensar que cada post que publicam pode contribuir com violência ou paz, com um olhar de solidariedade ou preconceito, portanto, a internet pode ser melhor ou pior dependendo do uso que fazemos dela. Ou seja, nós temos nosso papel na contrução de uma internet melhor agora e no futuro.
Para isso, é preciso investir numa educação de qualidade que reflita a internet na sala de aula. E numa educação que tenha como princípio a autonomia, ajudando os alunos a terem uma postura crítica, responsável, autônoma e criativa diante das mensagens que recebem e publicam na rede. Não se pode pensar que a internet é perigosa. Na verdade, viver é perigoso e a internet faz parte disso. É preciso pensar a internet como um espaço de oportunidades e, por isso, pensar que a educação para a vida, para as relações sociais, para que encontremos os melhores caminhos, para a proteção de nossa privacidade é uma educação online e offline. Não faz sentido pensá-los separadamente.
A internet pode ser mais ou menos saudável dependendo da forma como nos apropriamos dela, por isso a importância de que as crianças desde cedo sejam educadas para reconhecer a rede, seus caminhos, suas armadilhas, formas de proteção; a importância de que sejam acompanhadas nas suas interações com a rede até estarem autônomas. Da mesma forma que nenhum pai ou mãe deixa uma criança sozinha numa cidade cheia de ruas e becos sem que ela conheça minimamente seus caminhos, o mesmo deve ser feito com a internet.
É possível fazer uma educação que parta do princípio da autonomia em direção a uma cidadania digital. E a escola é um importante espaço de educação no qual crianças e adolescentes podem discutir temas como privacidade, anonimato, sexting, navegação segura e até mesmo políticas públicas que estão definindo o presente e o futuro da internet no Brasil. Nosso país, por exemplo, é o único no mundo que possui um Marco Civil para a internet – aprovado em 2014 depois de um longo processo de debate e à espera de um decreto presidencial para sair do papel – uma espécie de constituição para regular como a rede deve funcionar, tendo como base princípios que foram discutidos por vários setores da sociedade brasileira.
Caso um professor tenha vontade de criar projetos para usar a internet em sala de aula ou esteja com dúvidas sobre como ajudar um aluno, como abordar determinado assunto ligado à internet ou de que maneira pode fazer um uso mais seguro da rede, pode acessar o site da Safernet Brasil (http://www.safernet.org.br/), onde encontrará dicas, guias, vídeos e também uma área como o canaldeajuda.org.br onde receberá orientação de profissionais.
O site também possui um canal de denúncias e, segundo Nejm, as principais violações que chegam até os profissionais da Safernet são os chamados crimes de ódio vindos de páginas web, seguido da violência contra mulheres e violência sexual contra mulheres e adolescentes. Para Nejm, os crimes de ódio refletem a sociedade machista, racista, misógina e homofóbica que temos, além do preconceito de classe que é muito grande no Brasil. Como a internet é um reflexo da sociedade, isso se reproduz nas suas páginas.
Outro tipo de solicitação muito comum recebida pelos profissionais da Safernet são os pedidos de ajuda de mulheres e adolescentes, até menores de idade, por causa da pornografia de vingança. Ou seja, companheiros ou ex-companheiros que resolvem divulgar imagens íntimas de suas parceiras como forma de vingança.
Esse tipo de caso, além de outros exemplos de assuntos já aqui podem e devem ser discutidos em sala de aula, num debate sobre cidadania, cultura de respeito, sobre gêneros, sobre os diferentes tipos de violência e sobre uma cultura de preconceito que se naturaliza a partir de brincadeiras e piadas de mal gosto, a partir de propagandas ou até mesmo dentro de casa. Se queremos uma internet melhor, temos que discutir juntos nosso papel na rede e os educadores, as escolas podem ser os nossos maiores aliados!
Obs: Texto baseado nas discussões do Hangout Internet Segura, realizado por Safernet Brasil, Coding Rights e Instituto EducaDigital, no dia 15 de fevereiro de 2016.
*Cristiane Parente de Sá Barreto é Jornalista, Educomunicadora, Sócia-Fundadora da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), Doutoranda em Comunicação e Pesquisadora do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade – CECS da Universidade do Minho, Bolsista da CAPES, Mestre em Educação pela UnB e em Mídia e Educação pela Universidad Autónoma de Barcelona. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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