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Pesquisadora defende que a política de Educomunicação vá além do acesso à tecnologia. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)
Pesquisadora defende que a política de Educomunicação vá além do acesso à tecnologia. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)| Foto:
Pesquisadora defende que a política de Educomunicação vá além do acesso à tecnologia. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Pesquisadora defende política de Educomunicação que vá além do acesso à tecnologia. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Nos próximos dias 27 e 28 de maio a UNESCO, a Universidade Autônoma de Barcelona e o Projeto EMEDUS promoverão, em Paris, o primeiro fórum europeu de Media Literacy tendo no tema da cerimônia de abertura Novo Mundo, Novas Literacias. O que, para mim, significa a justificativa não só do evento, mas de todas as reflexões que estão sendo feitas em nível político, cultural, econômico, no mundo todo sobre esse assunto nas mais diversas instituições (igrejas, escolas, ONGs, congressos nacionais, associações profissionais e muitos outros).

Antes disso, a UNESCO já esteve presente nos 30 anos do CLEMI (Centro de Ligação do Ensino e Meios de Informação), com Alton Grizzle, destacando as mudanças ocorridas nos últimos 30 anos no mundo e que demandavam uma reflexão-ação séria e urgente em relação a uma política de educação para a mídia. Entre as mudanças nesses últimos 30 anos, podemos facilmente destacar: menos especialistas em certas áreas e mais generalistas (basta dar uma olhada no que pedem a um jornalista numa seleção de trabalho); mais trocas culturais entre fronteiras; menos textos e mais imagens, áudio e sons na internet; risco de extinção de línguas em detrimento do poder cada vez maior de outras dominantes; menos tempo para verificar informações, apesar de serem cada vez mais abundantes; mídia como sala de aula paralela, etc.

Para responder a essas mudanças é preciso uma política de Media and Information Literacy, como dirá a UNESCO ou de Educomunicação, como defende a Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação – ABPEducom. Política essa onde o acesso à tecnologia não seja o mais importante, e sim a política educacional por trás das máquinas; que leve em conta um contexto no qual muitas vezes existe tecnologia, mas não equidade; em que há acesso (800 milhões acessam a internet pelo celular; mais de 500 milhões de contas no Twitter, etc.), mas falta qualidade nesse acesso; um contexto no qual sobra corrupção e falta uma dimensão solidária, de comunidade, uma dimensão ética, inclusive no tratamento da informação.

Afinal, quantas pessoas conhecem o sistema regulatório dos meios de comunicação de seu país? Quantos são aqueles que acham que encontraram uma informação na internet ao invés de « terem sido encontrados por ela » por causa dos motores de busca e seus direcionamentos? Quantas pessoas conseguem diferenciar as linhas editoriais dos veículos de comunicação que leem, ouvem, assistem e têm noção de que boa parte dos preconceitos, estereótipos e visões de mundo que possuem vieram daí? Quantos são os privilegiados que possuem aulas sobre mídia, sobre sua pseudo-transparência e importância para uma sociedade mais democrática?

No evento de maio, as mesas de debates, ao contrário do que algumas pessoas poderiam pensar, não estarão concentradas apenas em mídia e escolas. Não! Há mesas em que será debatido o papel da família e dos pais, a educação informal, o diálogo intercultural… porque o tema é latente e nasce no momento em que nasce uma criança e seus sentidos começam a funcionar; em que abre os olhos para um mundo de marcas, de cores, de personagens perfeitos na TV; um mundo de sons e escolhas que talvez não tivesse feito se tivesse tido mais opção.

A pesquisadora portuguesa Paula Lopes, da Universidade Autônoma de Lisboa, em sua tese de doutorado intitulada “Literacia mediática e cidadania. Práticas e competências de adultos em formação na Grande Lisboa”, após o resultado do estudo que fez e que em breve estará online, defende o investimento em Educação para a Mídia a partir de quatro pontos principais: reorganização curricular com destaque para esta disciplina; certificação de materiais pedagógicos a serem adotados pelos professores; formação dos professores e avaliação periódica dos resultados.

Convidamos os colegas educadores, comunicadores, pais, políticos, pessoas interessadas em um país mais ético, cidadão, mais inteligente, criativo, etc, a discutir conosco e a ABPEducom esse assunto tão importante. Estamos todos os meses aqui no blog Educação e Mídia e também em nossas redes. Em breve traremos alguns dos resultados do evento da UNESCO, em Paris. Contamos com vocês para avançarmos com o debate!

>> Cristiane Parente de Sá Barreto é jornalista, educomunicadora, blogueira, membro da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação – ABPEducom e do Comitê Mundial Jovens Leitores da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias  – WAN-IFRA. Atualmente, é doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho.

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