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Já faz um ano que estamos vivendo novas experiências por conta da pandemia. A nossa capacidade de nos adaptarmos a uma nova realidade foi sentida e teve de ser mostrada na prática, tanto que o momento atual, está sendo mais conhecido como mundo BANI ou, em português, FANI – frágil, ansioso, não linear e incompreensível. O impacto na economia foi forte. No Brasil, saltamos de um percentual de desemprego de 11,8%, no 1º semestre de 2020, para 14,6% no segundo semestre do mesmo ano. A educação também foi duramente afetada, resultando em quatro milhões de estudantes da educação básica sem acesso às atividades escolares, de acordo com relatório da UNICEF. Esse panorama nos trouxe inúmeros aprendizados e nos desafiou a repensar nossa forma de viver, agir e reagir a esses impactos.
A aceleração do processo de transformação digital e a necessidade por alta conectividade e processos logísticos mais robustos também impactaram, praticamente, todas as áreas de nosso setor produtivo, da sociedade e de nossas vidas. Um exemplo é um estudo recente divulgado pelo Google sobre os impactos da COVID-19 no varejo. De acordo com o estudo, já é perceptível a mudança em nosso comportamento enquanto consumidor: passamos por uma curva de aprendizado de consumo no digital e estamos mais propensos a realizar compras de maneira on-line devido à sensibilização frente à pandemia. O novo momento enfrentado pela sociedade trouxe mudanças significativas para o mercado de trabalho e para o mundo profissional. O trabalho remoto passou a ser regularizado, novas formas de contratação e de gestão de pessoas surgiram ou foram aceleradas/adquiridas e o mercado passou a repensar a forma de buscar seus talentos: quais mudanças precisam acontecer para atingir resultados? Quais novas habilidades precisam ser implementadas para resolução dos problemas complexos? Como trabalhar alternativas para enfrentar os desafios existentes? Como promover a aceleração digital necessária? Como promover maior sustentabilidade estratégica por meio de pessoas?
Para trazer respostas a perguntas como estas, os change-makers, ou agentes de mudança, estão sendo requisitados. Flexibilidade, adaptabilidade, criatividade, velocidade e transformação são alguns dos adjetivos procurados, além de habilidades específicas como as tecnologias habilitadoras. A IBM já anunciou que 43% de suas vagas hoje não mais possuem requisito de graduação, mas sim de competências, os novos colaboradores precisam “saber fazer”. A empresa traçou um plano a longo prazo para absorver talentos que efetivamente se conectem aos objetivos e resultados esperados. Para isso, lançou o P-Tech: programa que oferece aos jovens do ensino médio, com acesso a novas tecnologias, curso técnico e superior em áreas como nuvem, segurança cibernética e inteligência artificial.
Houve uma evolução nas contratações pelo mercado e isso pode se tornar um padrão. Além de habilidades técnicas, as soft skills também são foco preponderante. O Linkedin em sua plataforma de aprendizagem já traz o conceito de desenvolvimento de competências como forma de colaborar para um mercado de trabalho mais eficiente. A cada competência adquirida, há a possibilidade de adquirir badges, uma microcredencial como reconhecimento pela conquista. Empresas de tecnologia como a Microsoft, por exemplo, também já adotaram essa tendência, promovendo badges até na formação de professores. Pensando em formatos de superação, para obter nova fonte de renda e formação rápida e mais acessível financeiramente do que uma graduação, a plataforma EdX reúne cursos de curta duração de várias universidades, chamados microbacharelados, promovendo a aquisição de competências que permitam rápida inserção ou recolocação no mercado de trabalho.
Outros exemplos estão pipocando por aí. A questão é: como promover eficiência na formação e requalificação de profissionais para as novas necessidades do mercado? E, desta forma, como adaptar o modelo educacional para que seja mais aderente a esta realidade? O grande indicador a ser priorizado é a empregabilidade. A formação para o mundo do trabalho precisa ter este indicador como estratégia principal. A educação continuará sendo o agente transformador do meio para melhoria na economia, nas condições sociais, na vida das pessoas. Adaptar o seu modelo para desenvolver profissionais de excelência, capacitados para fazer a diferença, é a chave para prosperar. Desenvolvimento de competências por meio de módulos, microbacharelados, composição de conteúdos a curto prazo, flexível e adaptado ao aluno, de onde ele estiver, híbrido, digital: esse parece ser um caminho mais assertivo para as instituições de ensino repensarem seus modelos, promovendo diálogo com o setor produtivo para adequar seus currículos e, principalmente, cumprindo seu papel de contribuir para o aumento da empregabilidade e oportunizar ao mercado profissionais preparados.
Texto escrito por Giovana Chimentão Punhagui, pedagoga e mestra em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), certificada pela Universidade de Cambridge para o ensino de Língua Inglesa e formação de professores. Gerente Executiva de Educação do Sistema Fiep.