Pergunte a recrutadores qual a maior dificuldade na hora de selecionar candidatos a vagas e logo você vai ouvir que competências interpessoais lideram a lista. Por mais que o Brasil ainda tenha uma baixa parcela da população no ensino superior e exista um grande caminho a percorrer para melhorar o técnico, também é claro que o modelo de escola atual cria poucas oportunidades para ir além do desenvolvimento cognitivo. Na aula tradicional, que privilegia o conteúdo, existe pouca chance para trabalhar habilidades como liderança, criatividade, pensamento científico, comunicação e colaboração. A saída para isso passa pela integração das diferentes áreas do conhecimento e um ponto de partida está na metodologia de projetos.
Ao adotar projetos, o professor tem a chance de abrir sua aula para o mundo, libertando a si próprio e ao estudante dos limites e do caminho suave (e repetitivo) dos exercícios do livro didático. Pouco a pouco, a teoria começa a fazer sentido e a pergunta “Por que estou aprendendo isso?” ganha uma resposta contextualizada e baseada na prática, e não no “Porque cai na prova e no vestibular”.
Em vez de memorizar datas e fórmulas, alunos passam a ser desafiados a pensar respostas para questões complexas, muitas vezes multidisciplinares, e devem apresentar um produto final como resultado de suas pesquisas. E se não der tempo ou não houver recurso para o produto final? O simples detalhamento do processo de construção da pesquisa já é uma amostra e tanto da trajetória de aprendizagem.
É na interação com os colegas, enquanto planejam, organizam e executam o projeto, que os estudantes vão se deparar e aprender a lidar com situações em que precisam trabalhar em grupo, conviver com opiniões diferentes, comunicar de forma objetiva aquilo que estão pensando, defender seu ponto de vista e criticar de forma construtiva os que não consideram ser adequados.
Em tempos em que o debate político é dominado por radicalizações de ambos os lados, que sempre que possível partem para uma estratégia de desinformação, no ensino baseado em projetos os estudantes precisam obrigatoriamente buscar referências em diferentes fontes de informação que contrapõem crenças pessoais e os levam a se colocar no lugar do outro.
Ao final de todo esse rico processo, a nota claramente deixa de ser a protagonista. O aluno certamente vai conseguir compreender muito melhor seu progresso desde o primeiro contato com o conteúdo, a pesquisa, e a apresentação final, que também ajuda a criar um laço como seu projeto.
O Porvir já publicou diversas histórias de professores que adotaram a metodologia na seção “Diário de Inovações”. Ali o professor Eduardo Toshio Nagao, de um colégio particular de Londrina conta como um projeto envolvendo boliche serviu de inspiração para ensinar conceitos de física. Nos anos iniciais do ensino fundamental, a professora Expedita da Silva usou notícias de escândalos na política para trabalhar com os alunos a honestidade em situações cotidianas. Mais recentemente, “O Desafio Diário de Inovações” teve como vencedora na categoria de educação infantil a professora Luziângela Telles, de Curitiba, que leva as crianças para brincar e descobrir tudo o que a floresta dentro da escola tem a ensinar.
São muitas as iniciativas dedicadas a valorizar esse esforço de professores e alunos para inovar na educação. Entre as mais relevantes está o programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, que seleciona projetos de estudantes que transformam suas realidades e conseguem levar experiências da comunidade para o dia a dia dentro da escola.
Em diversos trabalhos reconhecidos ao longo dos últimos anos pelo programa, fica clara a preocupação dos estudantes em falar sobre preconceitos de raça e gênero, sustentabilidade e inclusão de pessoas com deficiência, por mais que o conteúdo dos livros didáticos não deem conta de sanar todas as dúvidas. Cedo ou tarde, a vida cobrará o mesmo.
* Texto escrito pela equipe do Porvir, maior portal de informações sobre inovações em Educação, na internet. O Porvir/Instituto Inspirare colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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