Questões relacionadas à qualificação profissional e às supostas defasagens que o sistema de ensino brasileiro apresenta na formação do jovem para o mercado de trabalho estão presentes com certa frequência no noticiário, em estudos especializados e no discurso de parte do empresariado. A ideia de fundo é que a escola brasileira, por sua distância da realidade do mercado de trabalho e pelo cunho excessivamente teórico do que é ministrado, não prepararia a juventude adequadamente para responder às demandas de um mercado competitivo e em constante mutação.
Uma evidência de que tal problema não é exclusivo do Brasil é um recente estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE) junto a várias das economias mais desenvolvidas do ocidente, que mostra a importância do desenvolvimento das habilidades necessárias ao exercício do trabalho para além da educação formal. A partir de um panorama realizado com dados dos 20 países-membros da organização, mostrou-se a necessidade de que empregadores, sindicatos e outras organizações envolvam-se em programas de curta duração.
Naquilo que pode ser considerado um guia de boas práticas, destaca-se a necessidade da articulação do aprendizado profissional com o desenvolvimento de habilidades básicas de letramento e numeramento. O estudo também aponta a necessidade de professores que tenham familiaridade com os processos produtivos mais recentes e a adaptação das escolas e gestores educacionais na integração entre demandas produtivas, conteúdos e métodos escolares.
Em linhas gerais, a OCDE constata um aumento da demanda por cursos e programas educacionais que não têm a duração, tampouco o formato das graduações de 4 anos. Para que os programas de educação profissional reúnam as qualidades necessárias a responder os desafios atuais do mercado, as recomendações da organização resumem-se basicamente em: que a educação profissional e os programas de treinamento devem envolver atividades de aprendizado que atentem às especificidades do mundo do trabalho; a força de trabalho das instituições de treinamento profissional deve combinar habilidades pedagógicas, experiência no “chão de fábrica” e conhecimento acadêmico.
Obviamente, atender a tais exigências não pode ser considerado apenas responsabilidade do sistema educacional oficial ou dos governos isoladamente. Ter a qualificação adequada para o exercício profissional (ou seja, a pessoa certa na vaga certa) implica no engajamento dos empregadores na concepção de programas, a limitação de seus objetivos (não abraçar o mundo com as pernas) e a combinação de linhas gerais concebidas em plano nacional com as especificidades locais, em busca da relevância e do impacto no microuniverso no qual cada empresa se insere.
Obviamente, as condições e recomendações aqui reproduzidas não resumem satisfatoriamente os desafios da educação profissional, tampouco as respostas adequadas a tais desafios. No entanto, servem para demostrar a nós, brasileiros, que a educação fora de nosso país também tem sido objeto de abordagens críticas, pois os sistemas educacionais nacionais, cada qual a seu jeito, apresentam lacunas na preparação do jovem para o mercado de trabalho. Cabe a nós e, especialmente, ao empresariado deixar de lado as queixas e buscar formas efetivas de contribuir para a mudança dessa realidade.
>>Christiano Ferreira é historiador e atua há mais de 10 anos no Ensino Básico e Superior como docente e gestor educacional. Atualmente coordena o Projeto Tetear, da Parabolé Educação e Cultura, que leva oficinas de arte e educação para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social na Região Metropolitana de Curitiba. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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