O Projeto UCA é uma iniciativa do Governo Federal que visa distribuir a cada estudante da Rede Pública do Ensino Básico Brasileiro um laptop voltado para utilizado na escola e em casa. Os marcos históricos do UCA remontam ao OLPC (one laptop per child), que surgiu por volta de quatro décadas atrás. A ideia do OLPC foi apresentada ao governo brasileiro por ocasião do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suiça, em janeiro de 2005.
A fase 1 do UCA, coordenado pelo governo Federal no Brasil, chamada de pré-piloto teve seu início em 2007 e foi implementado em cinco escolas públicas, localizadas nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Palmas, Piraí-RJ e Brasília. Foi uma fase fundamental para se obter subsídios pedagógicos e tecnológicos para a fase 2 – piloto.
A fase 2 (PROUCA) teve início em 2010 e contou com a iniciativa dos governos Federal, Estaduais e Municipais. O projeto foi replicado em seis municípios brasileiros, nos quais todas as suas escolas foram atendidas, onde são chamadas de UCA Total.
Na fase 1 os objetivos do projeto eram propiciar o desenvolvimento científico e tecnológico por meio da expansão do conhecimento, a fim de permitir a emancipação individual e coletiva, a consolidação da democracia, a melhoria da qualidade de vida e a equidade social amparada em valores éticos, estéticos e solidários. Já na fase 2 o Programa Um Computador por Aluno – PROUCA tem como objetivo ser um projeto Educacional utilizando tecnologia, inclusão digital e adensamento da cadeia produtiva comercial no Brasil.
Não vou descrever ou criticar a configuração das máquinas, a forma como chegam nas escolas, a falta de manutenção das redes, a estrutura da formação dos professores, pretendo destacar a questão da inclusão digital neste programa. As duas fases pressupõem ampliar o processo de inclusão digital dos professores, alunos e comunidades. A expressão “Inclusão digital” é muitas vezes utilizada somente para se referir à capacidade da população se inserir no contexto das tecnologias de informação e comunicação como consumidoras de bens, serviços e informações. E isso exigiria apenas a oferta de treino para a aquisição de competências básicas para manusear certos instrumentos e ferramentas.
A inclusão digital é importante tanto para permitir que as pessoas participem da economia como no processo de democracia e educação. Entendo que o programa um computador por aluno poderá contribuir muito para que aconteça no Brasil uma verdadeira inclusão digital, desde que os gestores e professores deixem os alunos levarem “suas máquinas” para casa, seja para realizar uma tarefa planejada, seja para explorá-la livremente.
Temos visitado muitas escolas que receberam os computadores do programa UCA e verificamos que falta muito para que os professores utilizem de forma efetiva no processo de ensino-aprendizagem esta ferramenta. No entanto, nas escolas onde foram permitido aos alunos levarem seus computadores para casa há muitos relatos de inclusão digital dos familiares e da comunidade em geral.
Na zona rural de um município, no qual a escola recebeu os computadores do UCA, mas ainda não há rede sem fio instalada, os alunos desenvolvem estratégias com seus laptops à revelia das condições materiais e históricas. De acordo com o relato, quando o professor solicita um trabalho, eles utilizam o laboratório, ou pegam o ônibus que faz o transporte de professores até a zona rural e vão até a cidade para “obter sinal” da internet. Eles aproveitam para enviar emails, trocar informações, acessar facebook, baixar músicas e trocá-las entre os demais colegas, que depois são transferidas para seus celulares.
Em outro município uma das alunas relatou que sua avó fica aguardando quando ela levará o laptop para casa, pois ela quer continuar aprendendo a usar o computador. Nesta mesma escola, um aluno disse que a mãe anota para ele o nome de algumas receitas para que ele procure na internet e salve no editor de texto. Quando ele leva o laptop para casa, o irmão salva num pen-drive para imprimir no escritório que trabalha.
Em mais um relato. Desta vez de uma professora que afirmou que a decisão da gestão da escola foi não liberar os laptops para os aluno. Resultado diferente na reunião de pais, quando 100% pediu para levar o laptop para casa.
Temos coletados muitos relatos que se vinculam a questão da inclusão digital, e estamos ansiosos para escutar os relatos dos alunos de uma escola que pela primeira vez, permitiram que os alunos levassem para casa no dia 12 de outubro, dia das crianças, os laptops.
>> Glaucia Brito é professora do Departamento de Comunicação Social e dos Programas de pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) e Educação (PPGE) da UFPR, pesquisadora em Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação.
>> Quer saber mais sobre educação, mídia, cidadania e leitura? Acesse nosso site! Siga o Instituto GRPCOM também no twitter: @institutogrpcom.
STF e governistas intensificam ataques para desgastar Tarcísio como rival de Lula em 2026
Governo e estatais patrocinam evento que ataca agronegócio como “modelo da morte”
Pacote fiscal pífio leva Copom a adotar o torniquete monetário
Por que o grupo de advogados de esquerda Prerrogativas fez festa para adular Janja
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS