Desde que trabalho com projetos de leitura – e faz mais de 15 anos – costumo acompanhar os relatórios do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) na esperança de ver os índices melhorarem. Há um pequeno avanço aqui, outro acolá, mas em geral, podemos dizer que os resultados são alarmantes e até desoladores.
A última pesquisa do Inaf divulgada em 2018 revela que temos analfabetos funcionais no Ensino Superior. Sim, temos alunos saindo do Ensino Médio e avançando seus estudos sem a mínima capacidade de compreender e utilizar a informação escrita e de refletir sobre ela. Grave? Muito! E o pior é que nem bem alfabetizamos nossos jovens e adultos e já surgem novas demandas, ou melhor, “novas-velhas demandas” das quais precisamos dar conta, como por exemplo, a alfabetização midiática. E me refiro a ela como “nova-velha demanda”, pois pode parecer algo recente – até pelas Fake News e pela quantidade de informações que cresceu exponencialmente com o advento da internet – mas de novidade esse tema não tem nada. Há mais de 70 anos a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos que já apontava a necessidade de alfabetizar para a informação. Seu artigo 19 diz que:
“Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. 1948
Nesse sentido, a alfabetização midiática, alfabetização multimídia, letramento midiático ou letramento informacional se fazem absolutamente necessários. Todos nós que consumimos e produzimos informação, precisamos nos “re-alfabetizar”. Quem nunca caiu na tentação de curtir ou compartilhar um conteúdo sem checar sua procedência? Quem nunca teve dúvidas se o que viu ou leu por aí, era ou não uma informação confiável? Quem foi formado em casa ou na escola para viver num mundo informacional?
Importante ressaltar que, alfabetizar em mídias e informação, não é apenas falar de novas tecnologias, mas de curadoria e de todo o ecossistema comunicativo (rádios, TVs, jornais, revistas, internet, outdoors etc.), incluindo os meios não tradicionais como as bibliotecas e museus, que são grandes bancos de dados e informações.
Enfim, diante do cenário apresentado, temos dois caminhos a seguir: o primeiro e mais fácil é cruzar os braços, culpar a escola que não tem qualidade, o governo que não investe, ou os professores que não são preparados, mas de nada vai adiantar, afinal, esse tema não compete apenas à educação formal.
E o outro, que para nossa sorte não é nada difícil, é buscar ajuda sobre como colocar a alfabetização midiática em prática. E existem muitas iniciativas bacanas e que convido vocês a conhecer, por isso deixei alguns links com informações que ajudam a desbravar esse novo caminho.
Se queremos promover o engajamento cívico, empoderar as pessoas para que entendam seu papel como cidadãs em uma democracia, para que se enxerguem como promotoras do desenvolvimento da nação, vale apostar na alfabetização midiática em todos os níveis e formas de ensino: da educação infantil à pós-graduação, em casa, entre amigos, em todos os espaços e momentos, sejam eles formais ou informais.
Notícias ruins sobre educação temos aos montes, mas elas não devem servir para nos desmotivar, e sim para nos desafiar a fazer algo melhor e diferente.
Sigamos em frente! Há muitos caminhos a descobrir!
https://redeglobo.globo.com/rpc/Televisando/
http://institutogrpcom.org.br/iniciativas/edumusic/
https://en.unesco.org/MILCLICKS
http://www.educamidia.org.br/home/
*Texto escrito por Ana Gabriela Simões Borges, Superintendente do Instituto GRPCOM, doutoranda em Educação e Tecnologias e Prosumer. A profissional colabora voluntariamente com o Blog Educação e Mídia.
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