A capacidade de aprender vem da necessidade de nossos genes precisarem fazer previsões em ambientes bastante imprevisíveis. O cérebro é construído por esses genes, com habilidade para tomar decisões e, então, garantir a nossa sobrevivência. Aprender, portanto, necessita de um motivo e de situações que envolvam o desenvolvimento desta necessidade.
A aprendizagem escolar não deixa de ser, nesse sentido, um conjunto de estratégias a serem adquiridas para poder viver e sobreviver em determinado tempo, levando em consideração o contexto social. O desenvolvimento da pessoa capaz de gerir o próprio conhecimento depende do modo como ela enfrenta a aquisição de novas informações. E hoje, com a demanda da convivência em uma sociedade cada vez mais complexa, as mudanças no mundo do trabalho estão gradativamente maiores, exigindo a formação de pessoas capazes de exercitar estratégias eficazes na resolução de situações da vida de forma autônoma.
Mas seria possível trabalhar estes aspectos no ensino médio, período em que os alunos se encontram na adolescência, fase na qual passamos por mudanças importantes tanto fisiológicas, quanto psicológicas?
Analisando a perspectiva da neurociência, pesquisas revelam que o desenvolvimento extensivo estrutural e funcional do cérebro continua durante a adolescência, o que significa que ainda há grande flexibilidade para ajustes na motivação e em prioridades de objetivos. No entanto, por conta das mudanças hormonais, em decorrência da puberdade, a propensão a riscos se torna maior, pois o nível de dopamina, responsável pelo prazer e sentimento de recompensa, cai consideravelmente. É por essa razão que certas coisas prazerosas na infância passam a não ser interessantes e, então, há maior vulnerabilidade em se arriscar.
Levando em consideração que o nível de motivação é bem menor, mas o potencial para pensar estrategicamente é grande por conta da realização de maiores e mais rápidas conexões neurais, há uma palavra essencial a se considerar na aprendizagem do adolescente: o desafio. Desafios podem ser instigantes ao ponto de se transformarem em um risco positivo, motivando o aluno a buscar o prazer e a recompensa na descoberta da melhor resolução.
É por isso que a metodologia convencional de ensino da forma posta na educação atual, de maneira ampla, não supre a necessidade do adolescente de lidar com as mudanças em seu corpo e sua mente e, por consequência, não satisfaz seu potencial para utilizar sua capacidade neural e motivacional para aprender. Portanto, a proposta de uma metodologia pautada na resolução de problemas para a fase da adolescência se torna uma real necessidade, possibilitando que ele se torne protagonista de sua própria aprendizagem, criando mecanismos para buscar a melhor solução.
É comum, na educação dos dias de hoje, que os alunos evitem os desafios, deixem de tomar iniciativa e preocupem-se mais com finalizar a tarefa à sua qualidade, conferida a possibilidade de certo tipo de recompensa ou punição pelo seu (não) cumprimento. Os adolescentes são levados a procurar incentivos mais extremos para compensar o baixo circuito motivacional do cérebro. Por isso, é importante que, juntamente com a metodologia de resolução de problemas, exista também a oportunidade de escolha de qual desafio e de que forma eles podem resolvê-lo. O protagonismo do aluno se desenvolve a partir do momento em que há a possibilidade de escolha para que ele consolide cada vez mais o seu ser social e se torne gerenciador de suas próprias estratégias de aprendizagem.
O trabalho com resolução de problemas na escola pode potencializar esse desenvolvimento, principalmente na adolescência, pois tornam-se desafios que impulsionam a capacidade motivacional e neural do aluno para aprender, fazendo com que fique preparado para conseguir caminhar com as próprias pernas ao terminar a educação básica. Criatividade, inovação, resolução de conflitos, pesquisa e comunicação são habilidades que advém do simples fato de que há um problema a ser resolvido. E é esse o espírito necessário do novo olhar educacional para responder aos desafios atuais.
Mudanças no currículo da escola, aliadas à quebra do paradigma vigente, tornam possível a aprendizagem por meio de resolução de problemas. Daí a necessidade imediata de revisitar a forma como o conteúdo está organizado, revisar a estrutura física da sala de aula e o papel do professor na mediação da aprendizagem. É preciso olhar a educação por um ângulo totalmente novo.
* Artigo escrito por Giovana Chimentão Punhagui, pedagoga e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), com formação complementar em ensino de língua inglesa pela University of Cambridge. Gerente Executiva de Educação do Sistema Fiep.
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