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A campanha Setembro Amarelo reserva 30 dias para os cuidados com a saúde mental e a prevenção ao suicídio, mas com o fim do mês algumas reflexões ficam. Uma delas é sobre o assunto ter se tornado corriqueiro a ponto de merecer atenção durante todo o ano. Outra questão é a impossibilidade de desvincular o tema das novas tecnologias.

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De acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), o número de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 mil para 14 mil. Segundo o Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade referentes a casos de 2012 a 2016, episódios depressivos eram apontados como a principal causa (30,67%) do recebimento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, em seguida apareciam outros transtornos ansiosos (17,9%).

É preciso lembrar que as últimas duas décadas foram marcadas pela ascensão da internet. Segundo dados do TIC Domicílios 2022, 142 milhões de brasileiros estão conectados todos os dias ou quase diariamente. Baseando-se nos dados do último Censo do IBGE, esse número mostra que 70% da população está sempre em modo online.

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Em um cenário em que a internet virou um meio de intensa interação social, não é possível dissociá-la do impacto causado por ela para a saúde mental de seus usuários, especialmente quando pensamos nos mais jovens. Segundo uma pesquisa sobre saúde mental conduzida em 2022 pelo Datafolha, 79% dos brasileiros afirmaram que as redes sociais podem contribuir para aumentar os problemas psicológicos.

O mesmo levantamento apontou que 84% da população brasileira acredita que os haters, pessoas que propagam o ódio nas redes sociais, podem influenciar no crescimento do nível de suicídio na sociedade.

Mas é necessário dizer que se as novas tecnologias podem ser um dos fatores prejudiciais, elas também podem ser usadas como alternativa de prevenção e de proteção aos seus usuários. E um bom exemplo vem do Piauí.

O professor doutor em computação Dario Brito Calçada e o bolsista de iniciação científica Luis Henrique Brasil, do curso de Ciências da Computação da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), desenvolveram uma plataforma que coleta publicações em contas do Twitter/X, rede social que há anos se tornou um diário digital para milhões de usuários em todo o mundo.

Após a configuração adequada, se o usuário publicar um texto com indícios suicidas, o sistema enviará um sinal de alerta ao próprio perfil, a familiares ou a outro responsável. Além disso, a plataforma também pode contatar profissionais da área de saúde, como psicólogos e psiquiatras, para auxiliar a pessoa monitorada.

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Segundo Luis Brasil, durante o funcionamento da plataforma, serão seguidas rigorosas normas éticas e de privacidade relacionadas ao uso de informações pessoais. As publicações passam por um processo de pré-processamento para eliminar informações sensíveis e irrelevantes, garantindo a privacidade e anonimato dos usuários. No momento, para se tornar público e gratuito, o projeto precisa de apoio financeiro.

Se voltar a um mundo sem internet, redes sociais e equipamentos tecnológicos se mostra cada vez mais uma utopia, é preciso pensar em caminhos possíveis para melhorar a nossa relação com tudo isso. Não dá para apenas lamentar esse cenário: é necessário usar as mesmas ferramentas para combater os problemas impulsionados por elas.

Quem melhor nos conhece senão os algoritmos de nossas redes sociais? Se eles sabem o que nos faz mal, precisam ser usados para nos auxiliar no caminho do que nos faz bem.

Caso precise de ajuda, ligue 188 ou acesse www.cvv.org.br. O Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, 24 horas todos os dias.

Jonas Santana é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta e colabora voluntariamente com o blog Educação e Mídia.

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