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Por mais um ano, o mês de setembro, o Setembro Amarelo, foi marcado por importantes mobilizações em torno da prevenção ao suicídio, tema que ainda é cercado por tabus e estigmas. Desta vez, as estratégias para evitar as mortes autoinfligidas por jovens ganharam atenção especial no debate e entre as iniciativas. O crescimento do número desses casos fez acender o alerta: é preciso ficar muito atento a sinais de que algo não vai bem com nossas crianças e adolescentes. É preciso olhar com cuidado para saúde emocional e mental deles.
Apesar de os especialistas no assunto reforçarem sempre que o suicídio é uma fenômeno complexo e plural, no desespero do luto geralmente buscamos uma causa, “a causa”. Um relacionamento, uma briga, uma perda, uma frustração e, na atualidade, um jogo digital, um vídeo macabro, um grupo de mensagens ou um fórum obscuro. A Internet entrou no topo da lista de “causas” para tentar justificar o ato ou a tentativa, em abordagens deterministas que não contemplam nem a complexidade do suicídio, tampouco a diversidade de apropriações que os jovens fazem dela.
Neste e em outros temas sensíveis, é mais justo trazermos a Internet como potência, como tecnologia e ambiência que pode potencializar as conexões entre as pessoas e as práticas sociais, como nós da Safernet acreditamos. Sim, é fato que adolescentes passaram a ter maior facilidade de contato com pessoas e conteúdos impróprios para sua idade na rede. Uma proporção não desprezível de brasileiros entre 11 e 17 anos têm contato pela Internet com materiais sensíveis, como formas de cometer suicídio (14%), formas de machucar a si mesmos (16%) ou formas de ficar muito magro (18%), conforme apontam os dados da TIC Kids Online 2018 do CETIC.br. E vale observar que cerca de um terço dos adolescentes participantes da mesma pesquisa apontaram que não recebem ajuda dos pais para usar a Internet com segurança ou para lidar com situações de incômodo vivenciadas na rede.
Porém, como potência, a Internet também permite dar escala a conexões de amizade, de fortalecimento de vínculos e de participação em grupos identitários que amplificam o bem-estar destes adolescentes, muitas vezes nas mesmas redes sociais nas quais encontram os conteúdos sensíveis. A Internet tem se tornado um dos principais espaços para conectar quem sofre com canais de ajuda, seja a partir de amigos que percebem postura diferentes e entram em contato, ou a partir dos mecanismos de inteligência artificial que reconhecem padrões suspeitos para conectar os usuários com ajuda em sites de busca ou em redes sociais, como Instagram e Facebook. Organizações como a SaferNet e o CVV conseguem, pela Internet, ajudar milhares de pessoas que muitas vezes não contam com serviços especializados em suas cidades ou ainda não se sentem em condições de falar diretamente sobre seu sofrimento com alguém presencialmente.
Dentre as ações realizadas em torno deste Setembro Amarelo, em 2019, vale destacar o Festival Amarelo (iniciativa do Facebook, Instagram, Vita Alere, Capricho, CVV e SaferNet Brasil), que celebrou a potência não apenas da Internet, mas da conexão Internet e Artes para promoção de saúde mental e bem-estar de adolescentes e jovens. Dentre as atividades de criação de poesias, ilustração, grafite e dança, uma incrível energia fluía nos encontros, debates e insights. Uma prova visível de que o tabu e o reducionismo que ainda imperam em torno da saúde mental é muito mais forte entre nós, adultos, pais, educadores e gestores, que ainda tememos inserir o tema de forma direta em nossos diálogos.
O Setembro Amarelo, que se aproxima do fim, nos ajuda sempre a recomeçar o esforço de acolher a diversidade de causas e fatores que nos fazem sofrer, para então podermos dar potência aos demais fatores que podem nos fazer ficar um pouco melhor, a cada dia, a cada situação e em cada etapa da vida. Se considerarmos que os jovens estão ainda mais conectados do que nós às redes digitais, é muito esperado que a Internet esteja presente tanto na lista de “causas” de sofrimento quanto na lista de “causas” para ficar bem e curtir a vida. Neste cenário, não podemos perder a oportunidade de usar a potência da Internet para fortalecer uma educação que encare abertamente o sofrimento emocional como parte da vida também de crianças e adolescentes. Em casa ou nas escolas, pais e educadores podem ganhar força com as tecnologias para conhecer e reconhecer o que incomoda emocionalmente crianças e adolescentes, promovendo um diálogo intergeracional que ajude a criar ambientes de acolhimento. Se está disposto a seguir este diálogo com sua família ou em sua escola, confira os novos recursos criados pelo Instituto Vita Alere com apoio da SaferNet, Google e Unicef para ajudar neste diálogo. E se precisar de orientações sobre situações de violações online, acesse www.canaldeajuda.org.br. Se precisar falar sobre alguém que está pensando em suicídio, acesse www.cvv.org.br.
*Texto escrito pela Equipe SaferNet Brasil. A SaferNet Brasil colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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