| Foto: Banco de imagens Canva
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Recentemente, li uma notícia que despertou uma mistura de preocupação e esperança. A justiça dos Estados Unidos reconheceu a responsabilidade do TikTok pela morte de uma criança de 10 anos. Ela faleceu após tentar um desafio perigoso visto na plataforma. O vídeo incentivava os usuários a se enforcarem até perderem a consciência, para depois “retornarem”. A menina iniciou a gravação, mas, tragicamente, morreu durante o desafio.

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O TikTok foi processado pela mãe da criança e, embora tenha alegado não ser responsável pelo conteúdo postado pelos usuários, o tribunal decidiu que a plataforma tem responsabilidade pelo algoritmo que recomendou o vídeo à menina. 

Essa vitória é um passo importante rumo à responsabilização das Bigtechs sobre os efeitos negativos que têm potencial de causar. Afinal, se grandes indústrias que promovem danos ambientais, por exemplo, são responsabilizadas por afetar o futuro do planeta, não seria justo que as gigantes que têm tanta influência no comportamento humano sejam levadas a minimizar os danos que vem causando? Apesar da esperança que essa decisão judicial suscita, ainda temos grandes motivos para nos preocuparmos. 

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Provavelmente, você já ouviu falar do TikTok, a rede social de vídeos curtos é muito popular entre a geração Z. Assim como outras redes, qualquer pessoa cadastrada pode postar conteúdos, e um algoritmo decide o que será exibido aos usuários, refinando-se com base nas interações. A idade mínima para criar uma conta é 13 anos, mas não há verificação eficiente. Qualquer pessoa pode criar uma conta, inclusive crianças abaixo da idade permitida, usando dados falsos ou verdadeiros, é possível ainda consumir o conteúdo sem nenhum tipo de verificação ou login. 

Segundo a UNICEF, crianças já representam um terço dos usuários da internet no mundo. Conectadas, elas ficam expostas a bilhões de conteúdos sem supervisão. Isso as torna um dos públicos mais vulneráveis no ambiente online, enfrentando riscos que vão desde os mais diversos tipos de abuso até a morte. 

O impacto das redes sociais no desenvolvimento infantil é significativo. Elas podem aumentar a ansiedade, fomentar a depressão, amplificar globalmente situações vexatórias, intensificando o cyberbullying, e ainda servir de palco para ideias perigosas, como o desafio que tirou a vida de Nylah. 

Este não foi o primeiro caso de uma criança ou adolescente morto devido ao conteúdo promovido pelo algoritmo do TikTok. Um estudo do Counters Rate Institute mostrou que, em menos de três minutos após criar uma conta, perfis de meninas de 13 anos começaram a receber conteúdos sobre automutilação. Em meia hora de uso, era entregue algum conteúdo prejudicial a cada 39 segundos, sem que buscas por esses temas fossem feitas. 

Em suma, a tragédia citada no começo desse texto ressalta a urgência de educarmos crianças e adolescentes sobre os perigos do ambiente digital. Como setembro é o mês em que refletimos sobre bem-estar emocional, vale destacar que a alfabetização midiática surge como ferramenta essencial para desenvolver a consciência crítica, ajudando-os a navegar com mais segurança pelas redes sociais. Aliada à educação socioemocional, que fortalece a capacidade de lidar com emoções e desafios, essa abordagem torna-se crucial para promover o bem-estar e proteger os jovens das influências negativas que podem impactar profundamente sua saúde mental e desenvolvimento.  

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Enquanto esperamos por medidas que tornem o ambiente online mais seguro, há ações que pais e educadores podem adotar: Primeiro, conversar com frequência sobre os riscos da internet e orientar as crianças a identificar situações perigosas. Também é crucial monitorar o que os menores acessam (aplicativos como o Family Link, do Google, podem ajudar). Ensinar a reconhecer desinformação e evitar exposição excessiva nas redes também é outro ponto de atenção. Por fim, limitar o tempo online e incentivar ao máximo outras atividades pode fazer a diferença.

**Texto escrito por Patrícia Nalevaiko, pedagoga, especialista em Educação e gestora do Televisando, projeto de Educação da RPC e do Instituto GRPCOM*. A profissional colabora voluntariamente com o Blog Educação e Mídia.