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O Brasil está entre os últimos no ranking da educação mundial, segundo os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgado no último dia 3, e isso nem é mais novidade. É duro, mas a constatação é de que a educação pública do país está estagnada. Onde estamos errando? Por que não conseguimos avançar?
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que o governo brasileiro tem buscado melhorar a educação. O Brasil mantém um nível de investimento na área equivalente à média dos países da OCDE e, desde a redemocratização, vem alinhando pouco a pouco suas políticas educacionais às práticas internacionais. Mas a qualidade da aprendizagem permanece muito abaixo da média, como os resultados do Pisa vêm demonstrando edição após edição. E como enfrentar este problema?
O primeiro passo é identificar as causas para o baixo nível de aprendizagem dos nossos alunos e definir uma estratégia que possa nos levar a uma mudança neste cenário.
Ao longo dos meus 30 e poucos anos no magistério, trabalhando como professor, gestor e pesquisador, concluí que os principais entraves para a obtenção de melhores resultados são: a situação em que se encontram os professores da escola pública; o baixo envolvimento e participação das famílias no processo de aprendizagem dos estudantes; e a precariedade das escolas e do modelo educacional vigente.
Em alguns dos estudos que realizei sobre a rede pública de ensino, identifiquei que o principal problema de seus professores é a baixa motivação. Há um mal-estar generalizado no ambiente público de ensino que os afeta. Essa desmotivação é explicada pela baixa valorização da carreira, pelos baixos salários (o professores brasileiros ganham, em média, o equivalente a 40% do salário médio dos professores nos países da OCDE), pela violência que cerca as escolas, pela dificuldade de lidar com o perfil dos atuais alunos e pelos problemas sociais que os professores precisam enfrentar no seu cotidiano.
Além disso, como já dizia o ex-ministro da Educação Henrique Paim, o maior gargalo da educação brasileira é a formação dos professores. Estes saem das universidades cada vez menos preparados para atuar numa sala de aula. A formação é ineficiente e fora da realidade, carregada de abstrações e com pouca prática. Soma-se a isso o fato de que a maioria dos estudantes que procura o magistério é composta por alunos que tiveram desempenho sofrível no ensino médio. Estudos recentes mostram que tanto a nota de corte do Enem dos ingressantes quanto a nota do Enade dos concluintes dos cursos de licenciatura — que preparam para a atividade docente em áreas como português, matemática e história — é inferior à média registrada por todos os cursos universitários.
O segundo fator que impede o avanço está relacionado às famílias, principalmente aos pais, que, na grande maioria dos casos, não ajudam, não cobram e nem apoiam os gestores e professores na promoção de uma educação de qualidade. Dos pais que têm seus filhos nas escolas públicas, cerca de 70% não têm ensino fundamental completo. Fica difícil para eles de fato contribuírem, palpitarem e até brigarem por uma educação melhor. O que é triste é que a maioria está, inclusive, satisfeita com a escola que aí está.
O terceiro fator tem a ver com a escola em si, sua infraestrutura física e tecnológica, extremamente inadequada para a realidade de hoje. Enquanto muitas escolas particulares atacaram esses problemas com altos investimentos, no setor público ainda encontramos escolas que nos remetem ao século passado, com uma precariedade que dá dó.
Enfim, são tantos os problemas e desafios com os quais temos de lidar que eu poderia ficar aqui discorrendo horas e horas. Sinceramente, acredito que não conseguiremos sair dessa estagnação se não tivermos um projeto revolucionário para a educação. Um projeto que consiga resgatar a autoestima do professor, que transforme gestores em líderes, que consiga envolver os pais e famílias e que reinvente a escola pública no Brasil. E esse projeto deve ser de todos.
A sociedade civil precisa abraçar essa causa. Colocar toda a culpa nos governos ou deixar tudo na mão deles tem sido o nosso principal erro estratégico como sociedade. Afinal, os maus resultados estão aí. Se não fizermos um verdadeiro mutirão, tenho certeza de que daqui há 20 anos estaremos novamente discutindo o mesmo tema. E, provavelmente, o tempo não será generoso com nossa inércia. Até quando podemos esperar? Até quando vamos aguentar?
*Texto escrito por Renato Casagrande, presidente do Instituto Casagrande. Conferencista, palestrante, escritor, pesquisador e consultor em Educação, Gestão e Liderança no Ambiente Educacional. Também é autor de livros e artigos publicados no Brasil e no exterior. Doutorando em Educação, é mestre e bacharel em Administração e licenciado em Matemática. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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