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Tablets nas escolas

Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Diante da recente entrega de tablets aos professores do ensino médio da rede pública de educação de diversos estados do país, fato que tem sido noticiado em diversos espaços da mídia, fui convidada a refletir sobre isso em reportagem de uma TV local. Com o olhar de alguém que atua na área da formação de professores e da mídia-educação, e que atualmente desenvolve pesquisa sobre o Programa Um Computador por Aluno, ProUCA, gestão e prática pedagógica no ProUCA e aprendizagem multimídia com o uso do laptop na escola, compartilho algumas questões que chamam minha atenção sobre os tablets na educação neste momento.

Antes de tudo é importante enaltecer a iniciativa das políticas públicas de inserção das tecnologias nas escolas. No entanto, defendemos uma perspectiva de inclusão digital que também seja inclusão social e cultural, ou seja, não basta o acesso às máquinas (laptops, tablets, etc), pois é preciso pensar na qualidade do acesso e nas possibilidades de mediação e participação na cultura no sentido de minimizar a exclusão digital, a digital divide. E isso implica assegurar desde as condições de infra-estrutura física, de rede banda larga e sua manutenção, até o desenvolvimento de propostas de formação de professores de modo eficiente aliado às mudanças na escola (arquitetura escolar, organização do espaço-tempo, currículo, planejamento, etc.).

Ou seja, não é suficiente entregar equipamentos tecnológicos cada vez mais modernos sem uma perspectiva de formação de qualidade e significativa, e sem avaliar os programas anteriores. O risco é de cometer os mesmo equívocos e não potencializar as boas práticas, pois muda a tecnologia, mas as práticas continuam quase as mesmas.

Nesse quadro de integração das tecnologias móveis e digitais nas escolas, grande parte dos discursos que enfatizam o tema da inovação na escola através das tecnologias envolve retóricas que produzem diferentes olhares da parte de quem está na escola e de quem atua com formação e pesquisa. Desde percepções de que isso apenas complexifica o processo de ensino-aprendizagem com riscos e potencialidades de diversas naturezas até uma visão de que o uso instrumental da tecnologia resolverá os problemas que seriam de ordem didática.

Com isso, podemos nos perguntar pelos desafios da didática diante da cultura digital: o tablet na sala de aula modifica a prática dos professores e o cotidiano escolar? Em que medida ele modifica as condições de aprendizagem dos estudantes? Evidentemente isso pode se desdobrar em inúmeras outras questões sobre a convergência de tecnologias e linguagens, sobre o acesso às redes na sala de aula e sobre a necessidade de mediações na perspectiva dos novos letramentos e alfabetismos nas múltiplas linguagens.

Outra questão que é preciso pensar diz respeito aos conteúdos digitais. Os conteúdos que estão sendo produzidos para os tablets realmente oferecem a potencialidade do meio e sua arquitetura multimídia ou apenas estão servindo como leitores de textos com os mesmos conteúdos dos livros didáticos? Quem está produzindo tais conteúdos digitais? De que forma são escolhidos e compartilhados?

Ou seja, pensar na potencialidade que o tablet oferece na escola – acessar e produzir imagens, vídeos, textos na diversidade de formas e conteúdos digitais – implica em repensar a didática e as possibilidades de experiências e práticas educativas, midiáticas e culturais na escola ao lado de questões econômicas e sociais mais amplas. E isso necessariamente envolve a reflexão crítica sobre os saberes e fazeres que estamos produzindo e compartilhando na cultura digital.

>> Monica Fantin é Doutora em Educação, Professora do Curso de Pedagogia da UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Educação e Comunicação, PPGE/UFSC. Confira o blog dela aqui.

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