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Um parabéns infeliz!

Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Se você consegue ler e interpretar um texto como este, e se ler e interpretar notícias de jornal diariamente faz parte da sua rotina, parabéns! Você está na elite do nosso país. No entanto, isso é mais um motivo de tristeza do que de satisfação. Quando o assunto é inserção na sociedade letrada, boa parte da população nem sabe do que se está falando. É assustador se deparar com o fato de que 32% dos brasileiros com ensino superior completo ou incompleto não podem ser considerados plenamente alfabetizados, segundo dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). Apenas 25% da população do país é capaz de ler, entender e interagir com textos. Alem disso, a capacidade de se expressar por meio deles também é defasada. Diante deste cenário que não é dos melhores já é possível perceber o grande desafio de alfabetizar. O mais intrigante nisso tudo é que o número de analfabetos no Brasil vem sofrendo uma grande redução nos últimos tempos.

São mais crianças com acesso à escola e mais jovens cursando ensino superior; porém, a grande dúvida que assombra é: qual a qualidade disso tudo? A alfabetização é uma atividade complexa que envolve diversos fatores e realizada de maneira processual. Junto dela acontece o letramento, ou seja, ao passo que são apresentados instrumentos e recursos da linguagem para a criança, também é necessário prepará-la para que faça um uso eficaz deles. A medida que vai crescendo, cada pessoa pode se desenvolver ainda mais e atingir níveis cada vez mais elevados de letramento.

Um dos caminhos para que isso aconteça é a leitura. Mas nem essa vem sendo realizada pela população. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 75% das pessoas nunca frequentaram uma biblioteca. Sabemos que livros não são os únicos suportes de leitura. A leitura pode ser na internet, em jornais, placas, rótulos; enfim, são diversas as possibilidades. E ler contribui para que o sujeito possa crescer e entender ainda mais.

Porém, é válido salientar que não se podem transferir responsabilidades. Não basta alfabetizar, é preciso fazê-lo com qualidade, habilitando plenamente os que passam pelo processo. Pouco adianta um indivíduo ter uma overdose de leitura sem estar habilitado suficientemente para saber o que está lendo. Do contrário, não basta ensinar bem, se o saber daquele que aprende não se tornar fazer por conta própria, afinal cada pessoa também é responsável por construir sua história.

Everton Renaud é filósofo, pós-graduando em Organização do Trabalho Pedagógico na UFPR e gestor de projetos educacionais que atuam com mídia e educação no Instituto GRPCOM.

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