Polis, em grego, designava, ao mesmo tempo, uma expressão geográfica e política. Político não era alguém diferente das pessoas em geral, mas toda pessoa que atendia aos requisitos da cidadania e que ,portanto, estava apta a intervir nos destinos da cidade. Político não era uma profissão, mas um exercício público comum e permanente. Quem fosse apto e não participasse era mal visto, incompreendido mesmo.
Os gregos inventaram esse modelo que feria uma ordem natural ( origem) e econômica ( dinheiro) , permitindo aos que tivessem boas ideias e maior poder de argumentação a chance de mudar a sua cidade.
Lógico que a democracia tinha ( como tem) os seus problemas: instabilidade, baixa participação, manipulação dos mais influentes, formação de grupos que acertavam resultados, etc, mas resistiu como ideia e foi se aperfeiçoando até chegarmos às democracias modernas.
Um problema porém vem minando consideravelmente esse modelo nos dias de hoje: a falta de exercício permanente . Os cidadãos cuidam de suas vidas privadas e são chamados a votar em períodos plurianuais para depois voltar às suas atividades privadas , em um ciclo que distancia a participação da responsabilização pela escolha. Os eleitos, assim, ingressam em um mundo à parte e, pouco a pouco, vão corporativizando sua atividade, como uma profissão e não uma representação temporária. Excrescência típica que demonstra esse fato é a existência de “aposentadoria” para parlamentares.
Quando, excepcionalmente, surgem circunstâncias além das eleições que mobilizam os cidadãos, o que se vê, quase sempre, é a expressão dessa falta de “treinamento”: gente vai às ruas para impedir o diálogo, para obstar as instituições, para exigir o fim das condições mesmas que permitem estarem ali, gritando. É triste de ver. Dá aquela vergonha alheia. Mas não pode atribuir culpa a quem tenta uma atividade para o qual não foi treinada, não teve ambiente para simular, para aprender.
Por isso é hora, mais do que hora, de ensinar cidadania nas escolas! Mas não apenas como conteúdo escolar, que seria como assassinar a ideia. O que é necessário é praticar cidadania nas escolas. Atribuir deveres e compartilhar direitos, ensinar as instâncias de reivindicação, mostrar os exemplos da História, as possibilidades de intervenção. Fazer a escola funcionar democraticamente. Um professor que fala em democracia e é autoritário com seus alunos é como um pacifista que fala com um cadáver pendurado na boca.
Por que não somos capazes de realizar uma grande mudança de funcionamento das instituições escolares, democratizando as relações com os alunos, fazendo-os partícipes do processo de aprendizagem e de manutenção do meio ambiente escolar, desde a limpeza, conservação, até o planejamento e decisões anuais e plurianuais? Mesmo que, começando agora, leve uma geração para se generalizar?
Talvez por que também nós não tenhamos uma educação para a cidadania e achemos mais “democrático” bater panelas tentando calar quem reprovamos ao invés de ouvir atentamente e formular argumentos consistentes para exigir mudanças – mudanças, não execuções- que contribuam para melhorar o ambiente político do qual somos todos parte.
Ontem a presidente dava uma entrevista no jornal da noite e vi crianças batendo panela. Por enquanto essa é a educação para a cidadania que os pais estão passando para seus filhos. Isto é, “vão lá fora crianças e calem a chefe do Executivo!. Depois eu temo pelo futuro e meus amigos dizem que sou pessimista.