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Os passageiros da nau “Vera” são uns tolos que se julgam sagazes e autênticos. Começando pelo capitão Thiele, incapaz de estabelecer a ordem e a paz em seu navio mas autor de discursos intensos nos quais preconiza o fuzilamento dos pobres e a submissão absoluta à autoridade; ou os estudantes cubanos que buscam escandalizar e constranger, mas que só conseguem provocar risos e compaixão com suas grotescas demonstrações de falta de educação e respeito: “são exatamente os sonhos maus de seus pais”, diz um dos passageiros diante de mais uma de suas “brincadeiras”; até mesmo um casal de gêmeos, sem eira nem beira moral, jogam um cãozinho ao mar, “por diversão” e quando um dos passageiros pula e se afoga tentando salvar o pobre animal, é ridicularizado por ser ele, o que buscou resgatar um mínimo de decência, o tolo.

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Finalmente, depois de festas e brigas, vexames e traições – “no navio só pensavam em fazer vigarices – o “Vera” chega ao seu destino e outros tolos embarcam, dando início a um novo ciclo aparentemente sem importância.

Nessa obra magnífica concluída em 1961, a autora norte-americana Katherine Anne Porter retrata o ambiente de valores ao avesso que compôs o cenário europeu que precedeu a Segunda Guerra. Uma reflexão sobre como a perda da referencia ética é sim um perigoso passo para a generalização do mal.

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Há alguns dias um amigo entrou no banco e ouviu, na fila, alguns homens, com a voz alterada, propor que “se matasse o Lula” e que este ato seria um ato de “patriotismo”. Meu amigo reagiu indignado àquela incitação ao crime e quase foi espancado pelas pessoas na agência, não só pelo grupo que conversava, mas outras pessoas que estavam lá.

Quem é o tolo dessa história? Em qual lugar o apagamento do discernimento, da civilidade, da capacidade de permitir que as ideias “briguem” sem por em risco a integridade física das pessoas, em qual lugar chegaremos? Há um porto seguro para essa nau de insensatos?

Os efeitos da euforia distópica que a tudo quer destruir, fazer terra arrasada, esse sangue nos olhos , esse dedo em riste para todos, essa gana de nutrir desertos trará qual benefício para nosso país? Fogueiras e autos de fé já não nos deu a História exemplos demais para querermos sua volta?

Todo avanço democrático sempre combinou inclusão e ampliação. Toda exclusão e restrição só alimentou discursos de violência e dor. Será que não está além da hora de se pensar em parar as diatribes inconsequentes ou então assumir de vez a face do casal de gêmeos da estória que gostava de ver o cão agonizar em meio ao oceano, pelo “prazer” que a dor dos outros traz? Sapere aude.

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