Não há como não lembrar das “pegadinhas” dos programas de televisão. Ou da história infantil do “É o lobo! É o lobo!” . Quando apareceu nas redes sociais foi, sem dúvida, essa a primeira impressão. Não era possível ser sério. Ninguém defenderia tamanho absurdo. Ninguém pediria o que estava sendo pedido, com ares de “cidadania”. Ou isso era possível? E então houve todas as pessoas que se indignaram, manifestaram-se. E por qual razão fizeram isto? Porque se importam pelos direitos e pelas políticas de compensação das diferenças e limitações. Porque se indignam com os que não respeitam o direito dos outros e, no seu narcisismo doentio, olham o mundo pela lente de seus umbigos. Solidarizamo-nos imediatamente com as pessoas com deficiências que estavam ali sendo agredidas, expostas, numa grosseria sem medidas.
Mas era tudo uma “brincadeira” da Prefeitura e seu incensado setor de comunicação social. Era uma “sacada” para “chamar a atenção” para o Dia da pessoa com deficiência. Era uma “fábula descolada” para “despertar” as pessoas que são “insensíveis” ao problema.
Só tem um porém: TODAS as pessoas que são INSENSÍVEIS ou não se importaram com o outdoor, ou riram dele ou o apoiaram, curtindo nas redes sociais. Sobraram os que se humilharam e os que se revoltaram. Para esses, o pessoal da Prefeitura de Curitiba trouxe uma “recado esclarecedor”: “Não é privilégio, é direito!”. Ora, cara pálida! E quem é que não sabe disso? “Quem desrespeita os direitos das pessoas com deficiências”, responderam-me os eficientes funcionários da comunicação social. Mas estes são os que NÃO se revoltaram com essa peça publicitária infeliz. Logo, qual o efeito desse esforço que custou aos cofres públicos mais de 16 mil reais?
NENHUM.
Não. Retifico. O efeito foi a sensação de termos sido enganados, ofendidos, numa das “brincadeiras” mais sem graça do ano. Fosse na escola chamaríamos de bullying. Mas é “mídia social”, a mesma da capivara, dos raios não sei o quê, das brincadeirinhas infantis que se tornaram a mais visível e premiada obra dessa gestão da Prefeitura de Curitiba. Da cabeça desse pessoal saiu essa ideia de tirar um sarro de toda a população preocupada da cidade. E, por fim, ainda, como se já não bastasse, todos os que se indignaram tiveram de ler a reprimenda em nova fase da incrível campanha da Prefeitura de Curitiba: “se tantos se revoltaram, por que tantos ainda desrespeitam”?
Que coisa absurda é essa? Os que se revoltaram são os que NÃO desrespeitam, por isso se revoltaram! É difícil entender isso? E se há tanto desrespeito, uma peça publicitária que abusa da confiança e da boa fé das pessoas, em uma pegadinha cretina, pretende ser o caminho para mudar as coisas?