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Há 45 anos o governo “revolucionário” determinava mais uma intervenção na combalida estrutura jurídica do país, impondo outro Frankenstein de medidas restritivas e ameaças punitivas, “em nome da segurança, da felicidade e do bem estar do povo brasileiro, ameaçado por aqueles que desejavam instaurar uma ditadura comunista no país.” Tudo foi tão canhestramente patético que é impossível fazer referencia ao período sem usar constantemente as aspas.

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O país foi amordaçado e ferido nos seus direitos fundamentais. Os burocratas que governavam – os militares não passavam do buldogue que protegia o portão – puderam implementar uma política torpe de concentração de renda e de enriquecimento pornográfico de muitos dos quatrocentões que ainda hoje desfilam seus despojos de riqueza pelas fuças dos ignorantes. E o país viveu assim até que soçobrou sob o peso da incompetência e excesso de falcatruas, com a sorte de poder colocar a culpa na crise internacional. E a sociedade então arrombou as portas da repressão e , nas ruas, exigiu a volta da ágora e da transparência. Lindos dias aqueles dos fins dos setenta e do começo dos oitenta. A esperança de que o fim da ditadura seria o começo de uma nova era, de um novo país, com novos homens e mulheres e um futuro digno de ser contado aos filhos e netos.

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Nosso maior erro foi achar que os buldogues eram os culpados. Nosso maior erro foi não perceber as raposas que fugiam sorrateiramente pela  janela dos fundos e misturava-se a multidão, incorporando-se ao coro da mudança. Nosso maior erro foi não perceber que havíamos perdido mais do que liberdade de expressão e, no nosso afã de recupera-la, deixamos as raposas se entenderem com os cordeiros, encastelarem-se na liderança dos partidos, mancomunarem-se com os quatrocentões de risos contidos e contas ( no exterior) volumosas.

A lição dos 45 anos do AI-5 é que ele continua vivo e atuante, agourando nosso país como uma sexta feira treze que nunca termina.