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Já se disse – perdoem eu não lembrar a fonte – que a “democracia pode não ser um céu, mas ajuda a não se viver no inferno”. O Brasil é um país independente desde 1822. Lá se vão quase duzentos anos. Pouco tempo em relação aos países europeus, muito tempo em relação aos países africanos. Mas somos uma Nação que quer ser democrática há muito pouco tempo. Foi nossa Constituição de 1988 que disse aos brasileiros: “vai ser democrático na vida”! Fruto de pressões de poucos – que financiavam a campanha de muitos – para que essa democracia não diminuísse demais os privilégios, o texto acabou sendo um tanto desigual e às vezes mesmo um tanto confuso, exigindo regulamentações que ainda não foram feitas ou que são modificadas para além do razoável. Mas o principal se manteve: a proposta de um pacto social pela equidade. Esse é o grande apelo da democracia: fazer de um lugar onde pessoas vivam juntas, um lugar melhor para todos viverem.

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Percebam: não um lugar “igual” para todos viverem, mas um lugar no qual ninguém precise viver abaixo da possibilidade de viver melhor! Esse lugar precisa garantir ambiente adequado – nada de esgoto aberto, rio poluído, lixão olhando pro céu; uma escola que funcione – não estatísticas, não prédios inacabados, não livros encaixotados, não merenda surrupiada ou estragada, mas aprendizado, preparação para melhorar de vida para todos os que querem se esforçar para melhorar de vida; uma saúde que previna e que combata doenças; uma segurança que proteja (e não que mate!).

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Simples assim! Difícil pra burro! ( esse texto é propositadamente cheio de exclamações!). Tanto que levou 166 anos – do grito do Ipiranga ao grito do doutor Ulisses – para essa intenção se tornar uma promessa real, uma Constituição “cidadã”.

Pois bem: brincar com a Democracia é qualquer coisa que ponha em risco esse contrato social. Brincar com a Democracia é colocar outros interesses antes desses. Nada contra “outros” interesses. O problema é a ordem de prioridade! Democracia é fazer cumprir o acordo proposto desse país se tornar um lugar melhor para os brasileiros viverem, sem desculpas para a fome, para morte por doença evitável, sem conversa fiada para o assassinato de inocentes pela bala perdida, pela falta de auxílio para o ônibus e para a merenda e para os livros e para o uniforme de quem quer estudar; para a vacina, para a maca, para o aparelho que salva vidas , para a polícia que protege e pacifica, para o engenheiro e arquiteto que ergue casas para todos, para, enfim…

Como temos sido tolos por achar que a Democracia são as Dilmas e os Temer, os Cunhas, os Renans, os Maranhão, evoé, loucos a vista. A Democracia somos nós que devemos querer. Mas queremos? Queremos mesmo um país melhor para todos os brasileiros? Mesmo para aqueles que não têm o seu “pique” pra trabalhar, ou sua saúde para malhar às cinco da manhã? Ou a sua memória prodigiosa, ou o seu espírito empreendedor mas que, mesmo assim, quer estudar, quer ter um médico pra aliviar a dor que tem…

Será que não somos nós que queremos a vista plácida da Casa Grande, dos grandes Sobrados, o que não é nada reprovável, contanto que nesse horizonte não precisemos deparar, sempre, com as senzalas e os mocambos?

A democracia é, necessariamente, um projeto para todos. A falta de democracia, a quebra de pacto fundamental, deixa o cada um por si. E aí não haverá vencedores, não tenhamos nenhuma ilusão. Só vítimas. Até não caber mais.

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