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Datas são estabelecidas como marcos simbólicos da passagem do tempo. Por isso, nas datas, rememoramos fatos, feitos e pessoas. É um parar o tempo que não para com o fim de percebermo-nos agentes em um mundo que é indiferente a nós. Por isso comemoramos datas: unimo-nos, forçamo-nos a esse encontro, preparamo-nos para esse evento. Queremos lembrar para nós e para todos que há coisas mais importantes que o nosso cotidiano.
Essa é a razão de o dia da consciência negra existir. Em um país que é único no mundo ao perpetrar massacres e extermínios e depois esquecer e ainda condenar como desmancha-prazeres os que não se conformam com o esquecimento, o dia da consciência negra deveria ser reverenciado por todos, como fazem os israelenses ao parar por dois minutos, não importa onde estejam, às 11 horas da manhã do “Yom Hazicarón” (“Dia da Memória”), para lembrar os mortos pela independência do país.
Aqui discutimos as “conveniências” comerciais de um feriado em homenagem ao dia da consciência negra, demonstrando cabalmente a inconsciência que explica a barbárie civilizatória na qual nos encontramos. Outros afirmam que essas comemorações reforçam as diferenças e, opondo-se às homenagens, pregam a condição de país mestiço que afirmam sermos. Ótimo! Vai ver é por isso que as estatísticas públicas continuam a indicar que negros com a mesma formação e função continuam a receber menos que seus respectivos “irmãos” brancos.  E que nos estádios de futebol cansamos de ouvir a torcida dirigir-se aos  jogadores brancos  com impropérios associando-os a animais: urso branco! Baleia albina! É estarrecedor querer lembrar que somos ainda um país dividido, com uma clara parte clara na parte de cima.
Pergunto-me por que a praça Rui Barbosa não poderia se chamar praça da consciência negra. Ou a praça Santos Andrade. Ou mesmo a Generoso Marques.
E por que uma praça dessas, tão no centro, e não a que já existe – Zumbi dos Palmares – lá no Pinheirinho? Uma só já não é suficiente?
Não, não é suficiente. E por quê? Porque acredito nos gestos simbólicos. E creio que a ação da administração pública deve pensar esses gestos. Um exemplo: diante da estigmatização aos nordestinos que se seguiu às últimas eleições presidenciais, o prefeito de São Paulo reativou o Conselho de Temas Nordestinos da cidade. Resolve? Não, mas aponta claramente qual a posição do gestor público diante da questão.
Mais um dia 20 de novembro passará e nossa cidade continuará a justificar-se com meias verdades e muitas mentiras diante de sua oposição às comemorações oficiais ao dia da consciência negra. Eu farei meus dois minutos de silêncio em homenagem aos negros traficados, explorados e mortos nesse país selvagem de ontem e de hoje. Nesse Dia da Memória, se todos nos envergonhássemos por esse passado comum, quem sabe um dia todos compreenderíamos que dias assim não podem mais existir no país que queremos ter.

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