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Diretas Já: passado de conveniência.
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Há algum passado que possamos dizer confiável? O que se comemora dos 30 anos das Diretas Já é o passado como ocorreu? Há as evidencias, sem dúvida: os que estavam em cima do palanque e os ausentes; os que se espremeram no calçadão e aplaudiram as palavras de ordem e os discursos inflamados e os que ficaram em casa torcendo o nariz ou para que as forças de repressão agissem; os que se infiltraram nas rachaduras do velho muro em frangalhos e se tornaram a “alternativa “ para um novo Brasil e os que esperaram para voltar nas inevitáveis “coligações para garantir a governabilidade.” Cada um usa as evidências para construir um passado de conveniência. Mas é tudo presente. O passado foi outra coisa.

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O passado foi o sonho de um “novo” Brasil e o fato é que o “novo” Brasil não veio. De nada adianta alegarmos os índices econômicos. Há mais pujança mas não menos desigualdade. Em 30 anos os 10% mais ricos continuam tão ricos quanto os 10% mais pobres continuam mais pobres. Se entre uns e outros há agora geladeira em casa , isso não pode ser o resumo de um sonho que se sonhou muito maior. É fato que há como alardear a baixa mortalidade infantil. Baixa não, menor. Mas era tão grande! E há sempre um ponto de vista. Por exemplo: então crianças morrem menos para mais jovens ficarem sem destino ou expectativas? Mas o desemprego é baixo! Mas a formação é péssima e é a construção civil  e os serviços dos Mac Donald’s da vida que sustentam a massa de analfabetos funcionais, endividados com a lógica de que mais é bom quando todos sabemos que o bom é o melhor… O passado foi o sonho de um Brasil melhor!

30 anos se passaram e o fato é que não queríamos apenas votar pra presidente. Queríamos um país bacana, desses de dar orgulho, com calçadas nas quais os velhos não tropeçassem e existissem bosques no lugar de áreas de escape para shoppings. Queríamos um país legal, desses no qual as escolas ensinam cidadania e os professores são cumprimentados nas ruas com respeito e deferência. Um país porreta, como um mapa para festas. Um país de colocar bottom no peito com a frase piegas: “Esse é meu país”.

Agora acompanhamos as comemorações dos 30 anos das Diretas Já. Nossa cidade participou. Sim, e foi bonito de emocionar.

Mas o que fizemos de nós desde então? Onde estão os sonhos sonhados de um país melhor, um governo melhor, uma cidade melhor? Os administradores mostram números, mas não vemos esses números na falta de sorrisos nas ruas. Os administradores choram as pitangas, falam de dívidas e dificuldades, mas não faltam recursos para obras que não pedimos nem desejamos, mas que são inauguradas com estardalhaço. Enquanto isso queremos calçadas humanas, queremos um centro alegre, com flores e mágicos nas esquinas. Queremos uma polícia que não bata nas pessoas mas que digam “por favor” antes de uma pergunta necessária. Queremos andar de bicicleta e de ônibus e não morrer de bicicleta ou ser esmagado dentro de um ônibus caro e lotado. Queremos uma coisa que gritávamos há 30 anos: respeito. Respeito!

Depois de 30 anos, parece meio ridículo escrever isso. Mas há 30 anos esse era o sonho que estava nas ruas e ninguém achava ridículo. Aliás, parafraseando o poeta, ridículo era quem não sonhava.

 

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