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Discordo. E apoio.

A pergunta mais comum da semana tem sido: vai na passeata? Não, não vou. A segunda pergunta mais comum da semana é: você concorda com a passeata? Sim, concordo. E aí é que é o drama: preciso me explicar! Não deveria, pois todo mundo deveria entender que o fato de uma pessoa não concordar com um movimento isso não implica que não apoie o direito de as pessoas participarem dele. O fato de eu não concordar com certos comportamentos, opiniões, torcidas, é uma discordância minha, por razões que reconheço serem convincentes para mim ( e talvez para outros mas não para todos). Nosso infantilismo democrático consiste nisso nessa segunda década do século XXI: o que eu sou contra não deve existir, o que eu sou favorável não pode ser criticado.

Acho que apanharemos muito civicamente antes que o óbvio se estabeleça: como diria a Hillary, referindo-se ao Trump: “ele é a prova de que qualquer pessoa pode ser candidato”. E é isso aí. Os que apoiam, aplaudem. Os que não apoiam, votam na outra pessoa. E assim caminha a democracia.

O problema – e isso eu acho grave – é que, para alguns, a oposição ao governo tornou-se a oportunidade do ódio, do “ajuste de contas”. Bom que para isso o Estado Democrático de Direito estabeleceu as leis e as penas previstas nessas leis, ressalvado o amplo direito de defesa. É verdade que essa coisa toda de Estado Democrático de Direito é cheio de falhas e contradições mas aí está uma causa em favor da qual eu participarei sempre: melhorar a democracia e seus mecanismos de garantia e controle. O duro que dia 13 provavelmente muita gente vai pras ruas pra querer propor acabar com ela! Ah, eu sei, é só uma minoria. E é verdade, não tenho dúvida. Mas mesmo assim não me sentiria nem um pouco à vontade em estar no mesmo lugar dessas pessoas. No entanto, para todos os que acham que compensa, que seus motivos são sérios e republicanos, desejo uma boa manifestação. Não, não vou torcer que chova na hora. Muitos amigos meus estarão lá e prezo por eles. Não, não desejo que o pessoal que apoie o governo apareça e dê a maior confusão. Aliás, acho essa ideia uma outra das faces do infantilismo democrático. Como disse o Ministro do STF, a produção de um cadáver não serve à democracia. Pois então que fiquemos todos vivos.

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Um dia – sou um otimista inveterado – falar sobre uma passeata contra o governo não será notícia, nem haverá temores. Será somente – o que é! – um movimento colorido na paisagem urbana. A queda do governo – como nos países parlamentaristas – é um fato decorrente da perda de aderência política e social e está no rol das possibilidades corriqueiras de qualquer gestão que assume. Nem é um terremoto, nem é uma marola. É um fato da democracia e não precisa ninguém achar que a vitória é para sempre nem que a derrota é irreversível. Como diria outro presidente que foi derrubado mas não derrotado em sua sanha de mau caráter: “o tempo é o senhor da razão”.

 

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