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E se não existisse o vestibular?

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O vestibular existe há décadas. Eu dou aula em cursos preparatórios há 30 anos. E tenho colegas que estão nessa lida há mais de 40.

Por que os vestibulares existem há tanto tempo? E por que com uma estrutura praticamente igual?

A ditadura acabou, a crise monetária passou, a democracia estabilizou, o crescimento da renda aconteceu, até olimpíadas e copa do mundo teremos por aqui. Mas o vestibular continua quase a mesma coisa.

Quando falo vestibular, falo Enem. Não venham com esse convescote de avaliação do ensino médio e blablablá, o Enem tornou-se um vestibular. Só. É melhor, é pior? É um vestibular.

O que mais me encasqueta é por qual razão os colegiados das universidades públicas, os professores influentes dessas universidades, os diretores, coordenadores não buscam soluções mais adequadas para selecionar jovens para suas escolas superiores. Muitos reclamam, reclamam, reclamam, mas não movem uma palha na burocracia interna de suas instituições para fazer acontecer e termos um processo de avaliação pelo menos melhor, mesmo que não seja ideal ou perfeito.

E enquanto isso, acompanho esses valorosos jovens de 16, 17 anos, fim de semana após fim de semana fazendo provas, muitas vezes sofríveis para não dizer ridículas, tentando o sonho do ingresso na profissão escolhida. Provas que não retratam o nível de formação média que deveria ser exigido, nem o de leitura, nem o de compreensão, nem o de análise e julgamento, muito menos o de avaliação crítica sobre os problemas contemporâneos e ainda o de capacidade de improvisação, colaboração e inovação que são os requisitos fundamentais para o mundo do trabalho. Ou seja, nada.

Mas eles vão –  esses jovens sobre os quais recai o estereótipo de “alienados” –  dedicados e assíduos, para todas as aulas e revisões, acreditando que as provas provarão sua qualidade e condição de assumir o posto de universitários.

Lamento, lamento profundamente, quando vejo cada prova de seleção que muitas universidades fazem: o descuido, o descaso, a desconsideração. E muitas vezes, conversando com professores universitários, ouço críticas ao meu trabalho. Ora, bolas, e por acaso sou eu quem faço as péssimas provas que meus alunos são obrigados a responder? Mas concordo com esses professores: meu trabalho de preparar alunos para provas sofríveis reflete o objetivo para o qual se propõe.

Melhor seria que não houvesse vestibular. Mas se ele existe, ele poderia ser digno do esforço e da esperança desses milhares e milhares de jovens que acreditam que a universidade do sonho deles respeita a inteligência e o preparo deles. E eu , já há 30 anos nessa labuta, continuo a torcer e a pedir: universidades, melhorem suas provas de seleção!

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