Dia 4 de outubro é dia de Francisco. O papa, embora jesuíta, assumiu esse nome como um recado sobre a importância de uma reflexão sobre a relação do homem com o seu meio, os outros seres e , evidentemente, com os próprios semelhantes. Francisco deu esse recado há quase mil anos e , até hoje, lembramos, meio constrangidos, dele.
Somos uma pecinha nesse intrigado e , para muitos, inexplicável, quebra cabeças da existência. Muitas vezes achamos que por sermos uma pecinha, sem importância, não faremos diferença e, por isso, temos mais é de cuidar de arranjar um lugar para nós, confortável e seguro, para existirmos.
Francisco lembrou-nos que cada pecinha é o elemento fundamental do quadro como um todo e, não importa seu tamanho, todo o resto fica inevitavelmente atingido com a sua ausência ou com a sua indiferença. Mas ele não disse isso, apenas. Abriu mão de sua condição e lugar confortável na sociedade e resolveu, literal e metaforicamente, construir sua igreja, com suas mãos, seu exemplo e suas palavras.
Não precisou mais do que isso. Francisco se tornou amado e referenciado como um dos homens mais inspiradores da humanidade. Olhar para ele nos faz lembrar de Gandhi, Teresa de Calcutá, Mandela, alguns outros, não muitos porém.
A pergunta que perturba é: O quanto faz lembrar de nós mesmos? Por que, séculos e séculos depois, uma experiência marcada pela decisão simples de assumir uma vida como um fio da tessitura do mundo, um fio apenas, barato e comum, mas um fio primordial para a existência do tecido como um todo, não é capaz de demovermo-nos de nossa condição ridícula de “última bala do pacote de jujubas” e nossa mania infantil de acharmo-nos detentores do direito de nos sentar na janelinha o tempo todo, sem que tenhamos contribuído com quase nada para justificar qualquer desses privilégios?
Muita gente tem cartão de crédito especial e acha que isso a torna especial para se relacionar com o mundo e não apenas com o banco. Francisco, certamente, não daria um único passo no shopping antes que os “seguranças” o interpelassem e sugerissem que ele saísse. Francisco é, por isso, lembrança incômoda de nossa futilidade e desperdício de viver e, ao mesmo tempo, inspiração para assumirmos com nossas mãos as prementes tarefas que nos aguardam aqui, no dia a dia, com todos os seres vivos com os quais compartilhamos essa nave mãe tão castigada. Por fim, é lembrança do quanto, sem ninguém para chamarmos de “irmãos”, somos só a pecinha ridícula, sem sentido e sem finalidade, a flutuar em um espaço sem cor e sem música.
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